Saint Frances aborda com frescor o drama existencial que todos podem enfrentar.
O enredo
Apesar de ter optado por levar uma vida descompromissada, Bridget (O’Sullivan) se sente pressionada, aos 34 anos, a encontrar um objetivo e assumir uma atitude mais determinada. E a pressão maior não vem da mãe, que segue conversando com ela como sempre fez. Na verdade, a tensão vem dela mesmo, a partir de seu corpo físico até sua percepção sobre o que se passa ao seu redor.
E o prólogo de Saint Frances já serve como indicação desta fase da vida de Bridget. Nesse sentido, numa festa, um homem que a estava paquerando desiste dela ao saber sua idade e sua profissão modesta, garçonete. Mas consegue o interesse de Jace, um rapaz oito anos mais novo, que tem o mesmo trabalho que ela. Logo, eles vão para a cama na mesma noite e o título do filme aparece, com um humor implícito, indicando que a personagem santa do título não é ela. Posteriormente, descobriremos que a tal Frances também não é nenhuma beata, apesar de ser apenas uma criança.
Trabalho temporário
Eventualmente, Bridget se anima quando consegue o trabalho temporário de verão para ser a babá dessa menina de seis anos chamada Frances, criada por um casal de lésbicas, Maya e Annie. E, como Maya acaba de dar à luz e Annie trabalha o dia inteiro fora, elas precisam de uma ajuda para cuidar da garotinha, que é bem levada. Porém, a falta de experiência de Bridget nessa função causará várias dificuldades que ela terá que superar.
Por outro lado, a protagonista começa a se questionar literalmente, até buscando a solução para sua falta de perspectiva e motivação no Google. Enfim, seu corpo lhe dá uns alertas, na forma de sangue. Na primeira noite que passa com Jace, ela está menstruada e o sangue suja até no rosto do amante. Algum tempo depois, Bridget fica grávida e faz um aborto, o que provocará nela constantes corrimentos.
Adicionalmente, o entorno dela também sinaliza a urgência para mudar de atitude. Por um lado, a nova empregadora Maya, apenas um ano mais velha que Bridget, passa por uma gravidez considerada geriátrica. Por outro, sua amiga de escola, e antecessora nesse trabalho, acaba de ter um filho, e seu irmão mais novo também. E a proximidade com Frances e com o novo irmãozinho dela contribuem igualmente para despertar a necessidade de decidir se deseja ser mãe.
Além disso, outro sinal de imaturidade de Frances está simbolizado na escolha de sua leitura, um livro do Harry Potter, best seller da literatura juvenil. Logo, a convivência com Maya desperta também sua necessidade de construir novas amizades.
Profissionalmente, uma antiga colega de classe, hoje bem-sucedida, a trata mal quando descobre que ela trabalha como babá. E essa atitude bruta representa mais um alerta para Bridget, desta vez para buscar um emprego que lhe seja mais promissor.
Kelly O’Sullivan
Escrito e estrelado por Kelly O’Sullivan, Saint Frances mostra os dramas que afligem uma pessoa comum quando ela passa a se questionar sobre as opções que tomou em sua vida. O roteiro empresta frescor e atualidade com o casal gay de etnias minoritárias como coadjuvante e pela opção do aborto da protagonista.
E o diretor Alex Thompson marca sua estreia em longa-metragem com um inteligente uso de elementos indiretos para construir o problema do protagonista sem entregar tudo de forma gratuita.
Saint Frances acerta como uma alternativa de entretenimento inteligente e atual.
Ficha técnica:
Saint Frances (Saint Frances, 2019) EUA. 106 min. Dir: Alex Thompson. Rot: Kelly O’Sullivan. Elenco: Kelly O’Sullivan, Charin Alvarez, Braden Crothers, Lily Mojekwu, Max Lipchitz, Ramona Edith Williams, Jim True-Frost, Dennis Guinan, Laura T. Fisher, Mary Beth Fisher, Bradley Grant Smith.
Assista ao trailer original.