O diretor recifense Alex Carvalho estreia com Salamandra, uma coprodução adaptada do livro de 2005 de Jean-Christophe Rufin de 2005.
O filme se concentra em Catherine (Marina Foïs), francesa que viaja ao Brasil trinta dias após a morte do pai. Ela se hospeda no apartamento da irmã Aude (Anna Mouglalis) e do marido dela, Ricardo (Bruno Garcia). Em suas andanças sozinha pela cidade, ela conhece um rapaz chamado Gil (Maicon Rodrigues), com quem engata uma imediata relação.
Fixando-se exclusivamente na perspectiva de Catherine, o espectador compartilha a desconfiança de Aude e Ricardo sobre as reais intenções de Gil com essa mulher estrangeira mais velha. Após proibirem Catherine de levar o namorado para o apartamento deles, uma outra decisão rompe definitivamente a harmonia familiar: Catherine resolve abrir um bar em sociedade com Gil.
Ao não trazer cenas de Gil sem a presença de Catherine, o filme impede que o público saiba o que ele pensa. É uma opção válida, pois o espectador se solidariza com a posição de vulnerabilidade da protagonista, que mergulha de cabeça nessa paixão. Duas cenas de sexo muito intensas (curiosamente, não são da primeira transa) reforçam o desejo incontrolável que ela sente. O deslumbre dela se sobressai quando Gil canta uma música que diz que quase tudo pode dar certo, e ela retruca que prefere tirar o “quase” da letra.
Porém, Salamandra peca por não expor os sentimentos de Catherine. A paixão é evidente, mas o que ela sente além disso? Faltou revelar, por quais meios fossem apropriados, os pensamentos da protagonista em relação a tudo que acontece ao redor. A decisão de chamar Gil para ser seu sócio, por exemplo, parece surgir muito de repente.
Drama abafado
Além disso, o filme deixa propositalmente várias lacunas na trama. Contudo, isso acarreta o enfraquecimento da dramaturgia. Assim, os eventos se sucedem, mas o impacto deles na narrativa parece desconectado com eles. Veja como se encerra a sequência em que Gil convida Catherine para uma casa que não é sua. Ao invés de mostrar a reação imediata do rapaz, há um corte para ele já na casa dele, amparado pela compreensiva companheira. Ademais, o enredo não explica qual era o esquema de Pachá (Allan Souza Lima), chefe do rapaz, que arruína os sonhos do casal.
As muitas diferenças desse casal (de nacionalidade, social, de cor, de idioma, de idade etc.) anulam uma abordagem específica sobre preconceito. Até porque, no final, não é isso que destrói a relação e sim um problema mais concreto.
Na última cena, a protagonista está na praia sozinha, machucada física, econômica e psicologicamente. Nada fala, apenas olha para o crepúsculo do dia e de sua aventura. Salamandra se sustenta, essencialmente, no clima de romance erotizado dessa paixão inconsequente que deixou muitas feridas, sem permitir, porém, uma abertura para o que se encontra dentro da personagem principal.
___________________________________________
Ficha técnica:
Salamandra | 2021 | 116 min | Brasil, França, Alemanha, Bélgica | Direção: Alex Carvalho | Roteiro: Alex Carvalho | Elenco: Marina Foïs, Maicon Rodrigues, Anna Mouglalis, Bruno Garcia, Allan Souza Lima, Buda Lira, Suzy Lopes.
Distribuição: Pandora Filmes.
Trailer do filme aqui.