É impossível eleger o melhor filme de samurai dirigido por Akira Kurosawa. Mas, podemos arriscar em escolher Sanjuro como o mais divertido.
Sanjuro foi realizado logo após Yojimbo, o Guarda Costas. A intenção do estúdio Toho era repetir o seu sucesso. Por isso, temos novamente o ator Toshiro Mifune no papel do ronin.
O sobrenome do herói Sanjuro não é o mesmo nos dois filmes. No filme anterior, ele se chama Sanjuro Kuwabatake; neste, Sanjuro Tsubaki. Na verdade, nos dois filmes, temos a impressão de que eles inventam os seus nomes. Mas ele está um pouco diferente. No segundo filme, o Sanjuro não é tão sisudo quanto o do primeiro.
Tom
Definitivamente, a grande diferença entre os dois filmes é o tom. Sanjuro é um filme mais leve, com enredo mais simples, e, é até engraçado em alguns momentos. Além disso, o herói possui uma habilidade quase sobre-humana. Como resultado, este talvez seja o mais divertido jidaigeki de Kurosawa.
Quando Sanjuro entra em cena, ele é o oposto de um samurai no auge. Ele surge bocejando, malvestido, todo amassado e com barba malfeita. Por isso, os nove jovens que o encontram não lhe dão confiança. E essa impressão logo é desfeita através de uma brilhante exposição de ideias a respeito da situação que eles enfrentam. Adicionalmente, Sanjuro tem a oportunidade de mostrar sua destreza com a espada, selando definitivamente sua imagem.
E as cenas de ação são impressionantes. O ronin interpretado por Toshiro Mifune se move tão velozmente que torna as lutas verossímeis, mesmo quando Sanjuro enfrenta uma dezena de inimigos de uma vez. No final, tudo culmina num duelo arrebatador, onde as katanas se mostram mais rápidas do que os revólveres nos faroestes.
Trilha sonora
A trilha sonora forte pontua todas essas cenas de ação, juntamente com os efeitos sonoros detalhados para cada golpe nos embates. Adicionalmente, a música também acentua o humor. Por exemplo, no olhar de desprezo de Sanjuro diante das afetadas mulheres nobres que ele salva. E, também, na quase caricata figura do prisioneiro que não quer escapar de seu cárcere.
O diretor Akira Kurosawa costuma repetir alguns elementos que são recorrentes em seus filmes. Em Sanjuro, destacamos o uso do riacho. Por exemplo, na sua estreia com A Saga do Judô (1943), Kurosawa usa o riacho como um dos meios que carregam uma sandália importante para a história. Agora, o riacho assume importante função narrativa, pois é através dele que o protagonista enviará um aviso crucial, na parte final do filme. E, por falar do final, o jorro de sangue no duelo é de arrepiar.
Sanjuro é extremamente emocionante, mesclando ação e humor em altas doses. Um dos melhores filmes de samurai de todos os tempos, e o mais divertido de Kurosawa.
Obs: texto alterado em 17/02/2025.
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Ficha técnica:
Sanjuro (Tsubaki Sanjuro) 1962. Japão. 96 min. Direção: Akira Kurosawa. Roteiro: Ryuzo Kikushima, Hideo Oguni, Akira Kurosawa. Elenco: Toshiro Mifune, Tatsuya Nakadai, Keiju Kobayashi, Yuzo Kayama, Reiko Dan, Takashi Shimura, Kamatari Fujiwara.