O principal fato que desabona o filme alemão Sem Ar (The Dive) é que se trata de uma refilmagem do longa norueguês Além das Profundezas (Breaking Surface, 2020). Ora, para que refazer um filme apenas três anos depois que ele foi lançado? Apenas para oferecer no mercado interno sem legendas? Provavelmente não, porque seria mais fácil e barato dublá-lo. E o público alemão, de fato, prefere ver filmes estrangeiros dublados do que legendados, como informa o site dw.com. Então, a lógica deve ser a do menor risco. Afinal, refazer um filme sem alterações significativas assegura, pelo menos, uma obra de semelhante apelo ao espectador.
O roteiro
A produção alemã simplifica o cenário. No lugar do ambiente gélido do filme norueguês, a refilmagem acontece numa costa ensolarada. Mas a trama é a mesma. Duas irmãs que não se veem muito se encontram para mergulhar, atividade que elas adoram desde que o pai as ensinou quando crianças. Porém, May (Louisa Krause), a mais velha, fica com as pernas presas sob uma rocha após uma pequena avalanche. Então, Drew (Sophie Lowe) fará de tudo para salvar a irmã, enfrentando dificuldade atrás de dificuldade, pois parece que tudo está dando errado. Não desistir, até esgotar todas as opções, pode ser a única salvação para May.
O roteiro, creditado também ao autor do filme original, se mantém coerente nessa sucessão de infortúnios. É verdade que beira o exagero, como na decepção que Drew tem após tentar de tudo para abrir o porta-malas para pegar o macaco hidráulico. E tem também aquela decisão insensata de percorrer 1,6 quilômetros até a casa mais próxima para buscar ajuda, enquanto o oxigênio disponível para May está se esgotando. Mas, no geral, a história manda bem e mantém o espectador tenso.
A direção
O diretor Maximiliam Erlenwein, porém, comete alguns deslizes que esvaziam a emoção em certos trechos. Por exemplo, o uso de uma música que evoca alívio enquanto Drew tenta carregar dois tanques de oxigênio, quando a trilha correta devia ser de suspense, já que a tarefa é desafiadora. Ou aqueles planos gerais que querem mostrar May presa na rocha embaixo da água, mas que o espectador não consegue identificar nada além de um pequeno ponto luminoso, que é a luz do visor da personagem.
Por outro lado, funcionam bem os flashbacks que se confundem com alucinações. Através deles, o filme revela o que mais atormenta May nesse momento em que ela deveria encontrar a sua paz de espírito. Ou seja, os seus sentimentos em relação à irmã caçula, que estão divididos. O amor fraterno está perdendo para a inveja daquela que ela considera que sempre foi tratada como uma princesa, sempre a queridinha do papai. Além de tudo, May está desiludida, já perdeu todos os sonhos que tinha na juventude. Surge aí a essencial transformação que essa experiência trágica permitirá à personagem. Provando, mais uma vez, a força desse roteiro. E, assim, respondendo à questão do início dessa crítica.
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Ficha técnica:
Sem Ar | The Dive | 2023 | 91 min | Alemanha | Direção: Maximiliam Erlenwein | Roteiro: Maximiliam Erlenwein, Joachim Hedén | Elenco: Louisa Krause, Sophie Lowe, Stella Uhrig, Shira Richardson, David Scicluna.
Distribuição: Paris Filmes.
Trailer do filme Sem Ar: