Síndrome da Apatia indica uma mudança no cinema do diretor grego Alexandros Avranas. A descrença na humanidade, tão forte nos seus filmes anteriores, continua presente, mas atenuada e, por isso, desta vez com um resultado menos similar que a obra de seu conterrâneo Yorgos Lanthimos e da Greek Weird Wave.
A trama, que se passa em 2018, ameaça entrar no cinema político. Uma família russa foge da perseguição do governo e busca asilo na Suécia. Entra num programa de recepção de asilados políticos provisório, até que chega o dia da decisão sobre o pedido de residência permanente com status de refugiado. O pedido é negado, sob a alegação de que a filha menor, Katia, a única testemunha da agressão que seus pais, Natalia e Sergei, sofreram dos agentes russos, não prestou depoimento para evitar que ela sofresse.
Mas, agora, esse depoimento se torna a única chance que eles têm para conseguir alterar a decisão. O pai informa à filha que a permanência da família depende dela. Ela terá que contar perante os agentes da imigração tudo o que viu. Diante dessa pressão, ela entra num estado de apatia e fica desacordada. Uma gélida pediatra informa aos pais que Katia está com Síndrome da Resignação, o que significa que as funções cerebrais superiores dela foram desligadas, num mecanismo de defesa como autoproteção emocional. Quando Natalia e Sergei entram no imenso quarto onde está a filha, umas quinze crianças se encontram ali na mesma situação, indicando o quanto esse problema está se tornando comum.
Fantasia e otimismo
Em trinta minutos, o filme esgota o que possui de mais atrativo. O roteiro não desenvolve essa premissa a contento. Foge da trama política e entra no drama familiar. Os pais tentam treinar a filha mais velha, Alina, a mentir e depor no lugar da caçula. Essa dissimulação resulta mal para a família e para o enredo. Ao repetir o efeito da síndrome na outra filha, o filme banaliza essa condição psiquiátrica, que ainda é rara. O tom descamba para a fantasia, porque os pais resolvem levar as filhas para casa, sendo que fica evidente que não teriam condições de mantê-las vivas, já que elas estão desacordadas e nem conseguem se alimentar.
A cena com a família no carro e a mãe cantando uma música animada, bem como a personagem bondosa da enfermeira Adriana – papel de Eleni Roussinou, que protagonizou outros dois filmes de Alexandros Avranas, Não Me Ame (2017) e Miss Violence (2013) –, indica uma abertura à esperança que não fazia parte dos filmes do diretor. A conclusão, então, muito otimista, aponta para seu provável novo direcionamento, que só se confirmará com seus próximos lançamentos.
Forma menos controlada
Formalmente, essa mudança se faz notar também. Ainda que continue a privilegiar os enquadramentos geométricos, essa característica parece menos controlada. Há planos com essa preocupação, porém, filmados em diagonal e não de frente. E a câmera utiliza bastante o deslocamento sobre dolly em trilhos, como se representasse a vontade do diretor de filmar com mais liberdade.
Alexandros Avranas muda seu cinema autoral em Síndrome da Apatia, adotando um final esperançoso e uma personagem completamente boa. Mas, ainda lida com temas pesados e inclui personagens com comportamentos estranhos (a agente da imigração e a pediatra são arquétipos da descrença na humanidade). E, faz parte de seus filmes, já como um problema, o fato de começarem bem e depois decaírem. Por exemplo, em Não Me Ame a coisa degringola com a entrada do velho malvado na trama, enquanto este filme enfraquece quando a outra irmã também sofre a síndrome.
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Ficha técnica:
Síndrome da Apatia | Quiet Life | 2024 | 100 min. | Grécia | Direção: Alexandros Avranas | Roteiro: Alexandros Avranas, Stavros Pamballis | Elenco: Chulpan Khamatova, Grigoriy Dobrygin, Naomi Lamp, Miroslava Pashutina, Eleni Roussinou, Lisa Loven Kongsli, Johannes Bah Kuhnke.
Distribuição: Imovision.
