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Sobibor (filme)
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Sobibor

Avaliação:
4/10

4/10

Crítica | Ficha técnica

O filme Sobibor relata o histórico episódio da fuga em massa no campo de extermínio alemão na Polônia ocupada pelos nazistas, em Sobibor, que o oficial russo Alexander Pechersky liderou. A Rússia escolheu o filme como seu candidato ao Oscar de melhor filme estrangeiro de 2019, mas, a Academia elegeu cinco outros indicados nessa categoria.

O experiente ator Konstantin Khabensky interpreta o herói Alexander Perchersky e aqui estreia, também, como diretor de longa-metragem. Sobibor abre nos créditos com o som de uma respiração ofegante, cuja origem só a cena final revelará. A partir de então, já nas sequências iniciais, o filme procura retratar o que acontecia no campo de extermínio.

Primeiro, acompanhamos alguns militares nazistas em sua rotina antes da chegada da próxima carga de prisioneiros judeus. Na segunda sequência do filme, uma locomotiva vagarosamente se aproxima da estação de trem em Sobibor. Lá, alguns músicos tocam violino e o alto-falante deseja a todos boas-vindas. Os soldados alemães os recebem com educação, separam suas bagagens e as catalogam para posterior devolução. Quem se voluntaria para trabalhar no campo é levado para um outro local. Logo, essa encenação é desmascarada para mulheres que não foram selecionadas para o trabalho. Despidas, entram em uma câmara de gás e são executadas sem piedade, sob os olhos de um nazista que as observa pela janela.

Dentro do campo

E o filme Sobibor continua a descrever a vida dentro do campo, as mentiras, os abusos de poder e as crueldades dos nazistas. Alguns prisioneiros querem arriscar uma fuga. Porém, precisam da liderança de um militar experiente e tentam convencer Alexander Pechersky a se juntar a eles. Afinal, Pechersky participara de uma frustrada fuga em outro campo nazista. Na parte final do filme, Perchersky comanda a histórica fuga de todos os prisioneiros, derrotando Karl Frenzel, o comandante alemão interpretado por Christopher Lambert.

Apesar da bela fotografia de Ramunas Greicius no gelado clima de Sobibor e da fiel reconstituição do campo, o filme Sobibor apresenta sérios problemas. Fica evidente que a opção de entregar a direção do filme para o ator Konstantin Khabensky não foi uma boa ideia. Não funciona, seja por falta de experiência, por acumular responsabilidades demais – ele interpreta o personagem principal – ou talvez por falta de talento.

À primeira vista, o filme parece que exaltará a figura do herói russo Alexander Pechersky, que é o nome mais celebrado desse fato histórico. Afinal de contas, estamos diante de uma produção da Rússia. Porém, Sobibor decepciona qualquer expectativa de assistirmos a um novo Coração Valente (1995), o filme estrelado e dirigido por Mel Gibson sobre o herói escocês William Wallace.

Protagonismo diluído

Pelo contrário, o filme de Konstantin Khabensky prefere ser democrático em termos de protagonismo. São vários os personagens no roteiro, muitos deles sem função na narrativa. Com isso, acabam diluindo a atenção do espectador e ocupando o tempo que devia ser dedicado ao aprofundamento dos protagonistas. Por exemplo, três personagens recebem muita atenção logo no início do filme, quando desembarcam do trem: um joalheiro, sua esposa e um outro joalheiro amigo. Contudo, a mulher logo é executada na câmera de gás e o amigo some da estória sem maiores explicações. Quanto ao joalheiro, ele passa boa parte do filme revoltado com os nazistas por terem mentido que sua mulher estava ainda viva. Então, ele acaba morrendo antes da parte final, sem contribuir em nada para a fuga que é o assunto central do filme.

Enquanto isso, o herói principal Alexander Pechersky e sua namorada Selma não recebem a atenção que mereceriam. Principalmente o russo, que parece estar no mesmo nível de importância que outros protagonistas. Não há nenhuma tentativa de aprofundar suas motivações. Até mesmo o vilão vivido por Christopher Lambert tem oportunidade de revelar um pouco de seu passado para entendermos o que causa tanto ódio dele em relação aos judeus. Além disso, Perchersky já estava no campo de Sobibor. Então, não entendemos o motivo de o filme começar com a chegada do trem à estação.

Outros personagens

Outro personagem essencial também entra na história no meio dela, numa sequência forçada. Apenas para inseri-lo na trama como uma referência para quando ele realmente começar a atuar no plano da fuga. Esse personagem é o garoto, cuja primeira aparição acontece já com mais de uma hora de filme e o mostra cuidando de um cavalo. E ele não é o único que entra no filme após sua primeira hora, mas os outros nem são tão memoráveis.

Nesse sentido, o personagem mais consistente, e, portanto, mais interessante, do filme é o rapaz manco. Sua jornada no filme representa um arco de desenvolvimento completo. Ele chega a Sobibor na locomotiva com os pais e a irmã mais nova. Apesar de ele ser conduzido para o grupo de trabalhadores, acredita ingenuamente que reencontrará os parentes depois de um tempo. Fica sim revoltado quando descobre que eles todos morreram, e sua reação é se juntar ao grupo que planeja a fuga. Assim, se torna um dos principais responsáveis pela sua execução, chegando a matar alguns nazistas. O roteiro o favorece tanto que é dele a respiração que ouvimos no início e no final do filme. Por sinal, o longa se encerra com sua imagem emblemática correndo pela planície rumo à liberdade.

Montagem

Por outro lado, a montagem de Sobibor representa outro de seus maiores defeitos, confundindo o espectador. Por exemplo, numa das poucas cenas em que o filme antecipa o plano de fuga, os prisioneiros planejam colocar um banquinho em certa posição para o nazista se sentar de costas para um judeu que poderá ataca-lo. Essa antecipação do planejamento cria o suspense para o espectador, que torce para que tudo saia como planejado. Porém, depois dessa explicação, a cena seguinte não é a desse golpe, mas de outro que é um pouco similar, desorientando quem a assiste.

E, numa das últimas cenas, vemos os prisioneiros atravessando o portão do campo nazista para a liberdade, em câmera lenta. No meio da massa, a câmera foca em cada um dos protagonistas e, em flashback, vemos seus últimos atos durante a fuga. Inexplicavelmente, alguns deles morrem no flashback. Então, ficamos sem entender como ele poderia estar atravessando o portão principal do campo de extermínio. Talvez seja uma desastrada tentativa de inserir um realismo fantástico no filme. Contudo, isso não se encaixaria com o tom realista de tudo o que assistimos antes.

Pouco valor

Sobibor poderia ser um empolgante filme sobre um herói que consegue uma façanha inédita durante a Segunda Guerra Mundial. Porém, foge do objetivo de homenagear um nome para dissipar a atenção a tantos personagens sem nome que disputam seu espaço na tela. O filme serve apenas como retrato fiel do que acontecia dentro de um campo de extermínio nazista. Por isso, a única explicação para a Rússia ter indicado esse filme ao Oscar, aparentemente, é o seu valor humanitário e patriótico. Como cinema, Sobibor tem pouco valor.

Quer uma dica de um filme muito melhor sobre campo de concentração nazista? Então, assista ao húngaro O Filho de Saul, vencedor não só do Oscar de melhor filme estrangeiro como também do Grande Prêmio do Júri em Cannes.


Ficha técnica:

Sobibor (Sobibor, 2018) Rússia. 110 min. Direção: Konstantin Khabenskiy. Roteiro: Anna Chernakova, Michael Edelstein, Ilya Vasiliev. Elenco: Konstantin Khabenskiy, Christopher Lambert, Mariya Kozhevnikova, Michalina Olszanska, Phillipe Reinhardt, Maximilian Dirr, Mindaugas Papinigis, Wolgang Cerny.

Distribuição: A2 Filmes

Trailer:
Onde assistir:
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