Diretora de Jonas (2015) e codiretora de Alvorada (2021), Lô Politi explora em Sol o subgênero do road movie. Assim, seguindo a fórmula, uma viagem move a narrativa enquanto acontece a transformação no arco dramático do protagonista. O resultado é um filme agradável, mas que não consegue tirar o máximo de seu tema central.
No filme, quem viaja é Theo (Rômulo Braga). Ele passa as férias em seu apartamento em Salvador com a filha Duda (Malu Landim), que mora com a mãe e por isso Theo não a vê há um ano. Mas telefonemas inesperados convencem Theo a partir para a cidadezinha do interior onde nasceu para rever o pai Theodoro (Everaldo Pontes), que está à beira da morte. Ou seja, uma premissa que já vimos em outros filmes, por exemplo em Nebraska (2013), de Alexander Payne, Me Leve Para um Lugar Legal (Take Me Somewhere Nice, 2019) de Ena Sendijarevic. E que permite várias outras variações.
Qual a transformação?
É Theo quem passa pela jornada de transformação desse road movie. Mas, não quanto a seu perdido relacionamento com o pai, que largou a mãe de Theo doente há 30 anos para viver com outra mulher (Solange, ou Sol, título do filme). A mãe morreu logo em seguida, “de tristeza”, como afirma Theo. Desde então, pai e filho nunca mais se viram, até agora. Diante disso, o espectador assíduo tende a esperar que essa viagem os reconectará. Porém, na talvez única surpresa do filme, esse encontro serve para alertar que Theo está repetindo o mesmo erro com a sua filha.
“A grande história não é a de pai e filho, mas de pai e filha. Ele precisa passar pelo abandono e desconexão com o pai para, ao fim, se reconectar com a filha. A gente acha que está vendo uma história da origem dele, mas, na verdade, ele não está conseguindo se conectar com quem está do lado dele, que é a própria filha. Ele faz com a filha exatamente o que o pai fez com ele.”, confirma a diretora Lô Politi.
Ausência de conflito entre pai e filha
No entanto, o filme Sol não deixa isso evidente. Afinal, na primeira parte, vemos que o pai não conhece a filha como ela é hoje. O que é natural, já que não a vê há um ano, um tempo longo para uma menina que está entrando na adolescência. Mas essas diferenças são insuficientes para fins dramáticos. Nem se tornam um conflito na trama. Na verdade, o que atinge com mais força o emocional do público são os flashes de nostalgia que invadem Theo quando ele começa a investigar no Google o local onde o pai está. O belo tema musical enfatiza essa sensação e provoca o sentimentalismo, recurso que depois se repete com demasiada insistência. Daí que esperamos que o arco do personagem principal envolva a rompida relação com o seu pai, equívoco que não aconteceria se apresentasse um conflito maior entre pai e filha.
Apesar de não conseguir emocionar profundamente, Sol nunca perde o espectador. A diretora Lô Politi não arrisca muito, o que é ruim na parte inicial pois a câmera na mão, se intencional, não está trêmula suficiente para sentir algum conflito crucial entre pai e filha. Mas conduz com fluidez o restante da história, contando com a força das atuações de Rômulo Braga e Malu Landim. O resultado é mais agradável do que contundente, e revela uma evolução na carreira de Politi.
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Ficha técnica:
Sol | 2021 | 100 min | Brasil | Direção e roteiro: Lô Politi | Elenco: Rômulo Braga, Malu Landim, Everaldo Pontes, Luciana Souza.
Distribuição: Paris Filmes.
O filme Sol estreia nos cinemas no dia 8 de dezembro de 2022.