Suprema é a cinebiografia de Ruth Bader Ginsburg, a segunda mulher a ser confirmada pelo Senado para servir na Suprema Corte dos Estados Unidos.
O filme cobre sua vida desde seu início no curso de graduação em Direito na universidade de Harvard, em 1956, até sua primeira atuação perante o tribunal, nos anos 1970. O roteiro escrito por Daniel Stiepleman, sobrinho de Ruth, enfatiza a importância dela na luta contra a discriminação sexual. Em Harvard, eram poucas mulheres no curso, e a sequência de abertura ilustra isso ao filmar vários rapazes vestidos de terno entrando na universidade e Ruth no meio deles, vestida de azul.
A história do filme reverencia Ruth e também eleva a relevância do seu marido Martin. Ele era um estudante de direito um ano à frente dela, que sempre a apoiou, e que igualmente foi ajudado pela esposa quando enfrentou o câncer testicular. No meio do curso, Ruth acompanhou Martin para Nova York, onde ele foi trabalhar. De lá, ela se transferiu para a universidade de Columbia.
Discriminação sexual
Conforme o filme mostra, Ruth foi vítima da discriminação sexual no mercado de trabalho. Por isso, nunca conseguiu um emprego como advogada, mesmo tendo formação em duas instituições de prestígio. Então, a solução foi se tornar professora universitária e, durante os anos 1970 infestados de vários protestos feministas, Ruth alimentava seus alunos com ideias a favor da igualdade de gêneros.
O grande passo em sua luta foi aceitar o desafio de tentar reverter na Suprema Corte a decisão de negar dedução fiscal para um homem que queria contratar um cuidador para sua mãe enferma. A lei era tão tradicional que nem admitia a possibilidade de um homem precisar cuidar dos pais, e a dedução somente poderia ser concedida para uma filha mulher. Mesmo sem experiência prática, Ruth decide assumir essa luta no tribunal.
Felicity Jones interpreta Ruth Bader Ginsburg. Aliás, a atriz já havia atuado em uma cinebiografia, mas como coadjuvante, em A Teoria de Tudo (2014), sobre o físico Stephen Hawkins. Há uma intenção clara em Suprema de reduzir a beleza da atriz, em respeito à causa que Ruth defende. Dessa forma, o filme não levanta uma errada interpretação que os atributos físicos tenham facilitado suas conquistas. Assim, Felicity Jones se transforma em uma mulher com aparência regular e concentra sua interpretação no retrato da força de vontade de Ruth, vinda da crença em defender suas ideias.
Direção
A diretora Mimi Leder fez para o cinema filmes como O Pacificador (1997) e A Corrente do Bem (2000), mas sua filmografia se destaca pelos vários trabalhos em produções para a TV. Realiza um trabalho competente em Suprema, destacando-se na sequência de montagem que mostra Ruth construindo a argumentação do seu recurso. E, também, na preparação para o clímax do filme correspondente ao julgamento na Suprema Corte. Por fim, na porta giratória da parte final simbolizando a mudança dos tempos com a decisão a favor de Ruth.
Porém, Suprema possui alguns problemas de ritmo, e o interesse do espectador cai em alguns momentos. Isso acontece porque o tom é respeitoso demais e nenhuma surpresa surge na história. De fato, a cena final confirma essa reverência ao mostrar Felicity Jones como Ruth, subindo as escadas da Suprema Corte, e a verdadeira Ruth Bader Ginsburg toma o seu lugar.
Curiosamente, a produção do documentário A Juíza (RBG), sobre Ruth Bader Ginsburg, aconteceu ao mesmo tempo que esta cinebiografia.
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Ficha técnica:
Suprema (On The Basis of Sex, 2018) EUA. 120 min. Dir: Mimi Leder. Rot: Daniel Stieplemen. Elenco: Felicity Jones, Armie Hammer, Kathy Bates, Stephen Root, Sam Waterston, Jack Reynor, John Ralston, Justin Theroux, Cailee Spaeny.