Suprema Conquista é a primeira tentativa de Howard Hawks de dirigir uma comédia maluca, com muitas trapalhadas e diálogos nervosos. Aliás, que ele depois aprimoraria nas comédias “slapstick” Levada da Breca (Bringing Up Baby, 1938) e Jejum de Amor (His Girl Friday, 1940), dois dos melhores exemplares de todos os tempos nesse gênero.
Esse filme de 1934 é ainda um trabalho em desenvolvimento. Está mais próximo das comédias dos Marx Brothers do que dessas comédias “slapstick” acima. Os atores gritam e gesticulam exageradamente, guardando ainda resquícios de sua origem teatral. Afinal, o roteiro de Ben Hecht e Charles MacArthur é uma adaptação da peça de Charles Bruce Milholland.
A ação se passa em apenas três cenários: o palco de teatro, o apartamento do diretor o trem do título original (Twentieth Century).
Na Broadway, o diretor Oscar Jaffe (John Barrymore) ensaia uma nova peça com uma atriz iniciante, Lily Garland (Carole Lombard). Seu tratamento duro com ela acaba valendo a pena, pois ela aprende o ofício, faz sucesso e até vira namorada de Jaffe. Porém, ela não aguenta os ciúmes dele e foge para Hollywood, onde consegue uma fama ainda maior.
Jaffe tenta lançar uma nova atriz, mas não dá certo e o fracasso de sua peça em cartaz em Chicago o obriga a retornar. Na viagem de trem, ele reencontra Lily Garland por acaso. Então, planeja uma artimanha para consegui-la de volta aos seus espetáculos e seus braços.
Ritmo frenético
O ritmo é frenético e privilegia a comédia, deixando como piada o interesse romântico do diretor pela sua estrela. O casal principal protagoniza as principais piadas. Eles não fazem apenas o papel de “bonitinhos e comportados” como nos filmes dos Marx Brothers, em que os irmãos eram responsáveis pelo humor e sempre havia um casal de protagonistas sérios.
Isso não significa que Suprema Conquista não se apoie nos coadjuvantes para arrancar gargalhadas. De fato, eles são bem desenhados, todos com uma personalidade marcante, sem variações, o que facilita a assimilação deles pelo público como figuras humorísticas. Primeiro, temos nessa lista o contador, que usa sua razão para sugerir ao diretor mudanças que garantam o sucesso. Além dele, o assistente de Jaffe, que o quer ajudar, mas também assumir algumas funções dele. Porém, o grande achado desse grupo de coadjuvantes é o passageiro idoso com compulsão para colar adesivos religiosos em todo lugar e inventar mentiras, fingindo que tem muito dinheiro. Ele chega até a lembrar os trejeitos de Robin Williams, comediante que surgiria somente quarenta anos depois.
Enfim, para apreciar Suprema Conquista, prepare-se para ver uma farsa quase teatral, sem a sofisticação e os diálogos sagazes das futuras slapsticks de Howard Hawks. Dessa forma, divirta-se sem nenhum compromisso, tendo ainda a boa sensação de estar diante do surgimento de um tipo genial de comédia.
Por fim, a Obras Primas do Cinema lançou Suprema Conquista em dvd no Brasil, numa edição com legendas cheias de erros de tradução. Por exemplo, “play” foi traduzido como “jogo” ao invés de “peça” (de teatro). E a frase “diamonds need a little polish” (“diamantes precisam de polimento”) virou “diamantes precisam de um polonês”! Pelo menos, o disco tem a opção de legendas em inglês.
Ficha técnica:
Suprema Conquista (Twentieth Century, 1934) EUA. 91 min. Dir: Howard Hawks. Rot: Ben Hecht, Charles MacArthur. Elenco: John Barrymore, Carole Lombard, Walter Connoly, Roscoe Karns, Ralph Forbes, Charles Lane, Etienne Girardot, Dale Fuller, Edgar Kennedy, Billie Seward.