Suspíria – A Dança do Medo é a refilmagem da obra prima do terror que Dario Argento dirigiu em 1977. Respeitou-se a origem italiana do diretor (Luca Guadagnino), a americana da atriz principal (Dakota Johnson) e o gênero rock da trilha sonora (de Thom Yorke, do Radiohead). O resultado, porém, foge do horror artístico de Argento para o desagradável de Guadagnino, cujo filme anterior foi, espantosamente, o delicado Me Chame Pelo Seu Nome (2017).
Escola de dança só para mulheres
Suspiria – A Dança do Medo é dividido em atos, como numa apresentação de balé. Sua estória se passa em uma escola de dança só para mulheres localizada em Berlin, em frente ao muro que dividia a cidade entre as partes oriental e ocidental. Susie (Dakota Johnson) desembarca dos EUA para treinar nessa renomada instituição e surpreende a todos pela sua habilidade já nos primeiros ensaios. Porém, o sobrenatural domina o local. Então, enquanto ela dança, sem saber tortura uma aluna que deseja abandonar a turma, deixando-a totalmente retorcida.
E essa sequência de dança e tortura é extremamente longa, a cada passo de dança acompanhamos a garota sofrendo um golpe doloroso. Cada vez mais retorcida, com os ossos quebrados e membros virados, assistir a agonia da vítima por tanto tempo acaba sendo uma indesejada experiência sádica.
Fora do padrão
Adicionalmente, o estranhamento causado pelo ambiente é reforçado por cortes e planos estranhos, fora do padrão. Muitas vezes, o corte vem antes do ponto habitual, e a câmera insiste em preferir enquadramentos tortos. Da mesma forma, chama a atenção o uso constante do zoom. Já a fotografia possui cores emboloradas, que contrastarão com o final onde o vermelho do sangue e das vestimentas se sobressairão. Outro recurso que contribui para essa ambientação é a colagem de imagens perturbadoras na sequência do pesadelo de Susie. Além disso, pessoas sinistras compõem o elenco, tendo uma assustadora Tilda Swinton à frente.
Mas, sentimos falta da trilha sonora de rock eletrônico que a banda italiana Goblin compôs para o filme original. Em seu lugar, Thom Yorke utiliza cordas na maior parte do tempo, uma opção mais tradicional, deixando o uso dos teclados apenas para a cena final. Esse longo epílogo, aliás, definirá se você gosta ou não dessa refilmagem.
Monstruoso
Afinal, a escatologia toma conta dessa sequência, que tenta apresentar uma certa beleza plástica. Por exemplo, note o esmero em situar as dançarinas em espaços racionalmente calculados e algumas em posições que não nos permitem distinguir o corpo de cada uma. Porém, sobra o mau gosto dos terríveis figurinos, piorados com calcinhas cor de pele que tentam inexplicavelmente esconder alguma nudez quando imagens muito mais chocantes jorram na tela em abundância. Pior que ainda sobra muita nudez, ao lado de litros de sangue e figuras monstruosas. No entanto, o ritual é uma visão horripilante, principalmente pelas dançarinas em transe que se movimentam anormalmente. É outra cena exageradamente longa.
Por outro lado, Dakota Johnson não consegue ganhar a empatia do espectador, tão necessária para que possa depois quebrar essa confiança. Então, acaba sendo um dos motivos para que Suspíria – A Dança do Medo se resuma a uma exposição de cenas horripilantes. Como curiosidade, Jessica Harper, protagonista do filme de 1977 faz uma participação especial, como a mulher desaparecida do Dr. Josef Klemperer. Este é um personagem usado como ponte para relacionar o mal presente na casa com o nazismo.
Assim, Suspíria – A Dança do Medo não é indicado para o apreciador do horror artístico de Dario Argento. Pelo contrário, mira o espectador com estômago forte, que não se incomoda em ser exposto a longas cenas horripilantes.
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Ficha técnica:
Suspíria – A Dança do Medo (Suspiria, 2018) Itália/EUA. 152 min. Direção: Luca Guadagnino. Roteiro: David Kajganich. Elenco: Dakota Johnson, Tilda Swinton, Doris Hick, Malgorzata Bela, Chloë Grace Moretz, Angela Winkler, Vanda Capriolo, Alek Wek, Jessica Batut, Elena Fokina, Mia Goth, Clémentine Houdart, Ingrid Caven.
Distribuição: Playarte