Rodado nas montanhas da Geórgia, Teleférico do Amor integrou a programação do Festival Filmes Incríveis, promovido pelo Belas Artes Grupo. O filme marca mais uma colaboração do diretor alemão Veit Helmer com a região onde já filmou Absurdistan (2008) e De Quem é o Sutiã? (2018), ambos ambientados no Azerbaijão e na Geórgia.
Crítica:
Depois da comédia De Quem é o Sutiã (2018), o diretor alemão Veit Helmer lança o inventivo Teleférico do Amor, filmado como se fosse cinema mudo. Embora sonorizado, não há diálogos, mas palavras escritas em cartazes, documentos e outros artefatos fazem as vezes dos intertítulos usados nos filmes silenciosos.
A sonorização, na verdade, é parcial, de acordo com as escolhas da direção. Grande parte dos sons produzidos dentro da cena são suprimidos. A escolha do que será audível não é aleatória, possui fins dramáticos. Por exemplo, uma das protagonistas ensaia uma orquestra improvisada em silêncio. Dessa forma, quando chega o momento planejado para os “músicos” tocarem, o impacto sonoro ganha impacto maior.
Tal premissa evidentemente artificial pareceria forçado se representasse mero capricho do cineasta. Mas, em Teleférico do Amor está intimamente conectada com o enredo. Afinal, a trama acompanha a paixão que nasce entre duas condutoras de teleférico. Nino (Nini Soselia) já ocupa essa função quando entra a nova funcionária Iva (Mathilde Irrmann). Elas só se veem rapidamente, quando o carro que desce pelos cabos cruza com o que sobe. Não importa, pois esses segundos são suficientes para a atração que surge entre elas. E, dessa dificuldade, nascem criativas soluções para as interações entre Nino e Iva. Algumas, com inspiração quase poética, outras com humor cartunesco.
Um bilhete para a fantasia
O tema musical principal, com o acordeão como instrumento mestre, aliado ao tom de fábula e falsa ingenuidade, e às cores fortes, tudo isso remete a O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, de Jean-Pierre Jeunet. Nos dois filmes, a comunicação através dos movimentos da câmera impressiona. E, funciona, como prova Veit Helmer na cena em que Nino pega uma fruta do pomar usando uma longa vara, e o plano traz a visão do cesto.
O filme, porém, perde força com a emoção fácil. As iscas para fisgar o público estão nos personagens coadjuvantes. Entre eles, as crianças num interesse amoroso precoce demais, o idoso na cadeira de rodas que sonha em dar um passeio no teleférico e o vilão incorporado pelo chefe rabugento.
Apesar desses truques, vale embarcar nesse trajeto. Teleférico do Amor transporta o espectador para um mundo fantástico, como uma pequena fábula romântica onde o amor não precisa de palavras para se expressar. Audácias como essa atiçam nosso prazer para descobrir novos filmes.
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Ficha técnica:
Teleférico do Amor | Gondola | 2023 | 81 min. | Alemanha, Georgia | Direção: Veit Helmer | Roteiro: Veit Helmer | Elenco: Nini Soselia, Mathilde Irrmann, Zuka Papuashvili, Niara Chichinadze, Vachagan Papovian.
Distribuição: Pandora Filmes.