Terra Firme apresenta uma visão antropológica de uma comunidade italiana de uma ilha frente aos imigrantes africanos que chegam pelo mar clandestinamente em condições precárias.
O ponto central da trama é Filippo, um rapaz de 20 anos. Imaturo e, por isso, inseguro, ele trabalha com o avô em um barco de pesca, e mora com a mãe. Quando o avô resgata do mar alguns imigrantes ilegais africanos, ele é penalizado pela polícia com a apreensão de seu barco. Uma das imigrantes está grávida, e a mãe de Filippo a ajuda a parir o bebê, e a acolhe até que ela tenha condições de partir.
O filme mostra a comunidade dividida. Parte dela apoia a atitude de Ernesto, o avô de Filippo. Pescador veterano, ele sempre teve como lema o dever de resgatar uma pessoa que estiver se afogando no mar. Porém agora existem leis italianas que proíbem o resgate de imigrantes ilegais. O filho de Ernesto, que é dono de um quiosque na praia, representa a parte da população que repudia esses imigrantes, porque eles espantam os turistas, segundo ele.
Empatia
A determinação das autoridades influencia os habitantes locais. Por exemplo, Giulietta, mãe de Filippo, apesar de acudir a refugiada, quer se livrar logo dela, pois teme uma punição legal. Mas, a refugiada lhe conta que ela fugiu porque, na Líbia, de onde veio, estava presa e, além de passar fome, era violentada diariamente pelos policiais, motivo de ela estar grávida. Então, Giulietta compreende-a e passa a tratá-la como um semelhante.
O próprio Filippo passará por uma transformação. Ele viu o avô perder seu trabalho por ajudar os imigrantes. Então, numa situação similar, ele impede que novos clandestinos subam em seu barco, atacando-os com seu remo. Na manhã seguinte, esses homens aparecem quase mortos na praia, e são socorridos pelos turistas. E essa atitude contraria a convicção do tio de que os imigrantes atrapalham o turismo. Além disso, a moça que estava com Filippo no barco passa a desprezá-lo. Como resultado, isso desperta a reflexão do rapaz.
Questão antiga
Terra Firme lida seriamente com esse tema, que é uma questão antiga na Itália e em outros países europeus. Não há cenas engraçadas no filme, apesar de não ser um drama pesado. Um pouco de alívio na tensão aparece em alguns trechos onde Giulietta trata seu filho com uma proteção exagerada, e na atitude abobalhada do tio entretendo os turistas. Porém, o diretor Emanuele Crialese deseja mesmo apontar o dedo para aqueles que tomam uma posição contra os imigrantes, sem procurar compreender a motivação deles.
Por isso, perto da redenção de Giulietta e Filippo, a fotografia possui a sobriedade de um quadro barroco, com um belo contraste de claro e escuro acentuando a dramaticidade da cena. A trilha sonora é outro aspecto técnico que ajuda a colocar o espectador dentro do filme. Isso fica mais evidente nas cenas em alto mar, quando o vento e o som das águas foram fielmente captados para dar a impressão de estarmos no local.
Portanto, não se deixe enganar pelo cartaz de divulgação do filme, que mostra um monte de turistas saltando alegremente de um barco. A ilustração não tem nada a ver com a estória. Pelo contrário, Terra Firme é um drama sério que faz refletir sobre essa importante questão da imigração ilegal.
Como resultado de tudo isso, Terra Firma foi o grande vencedor do Festival de Veneza de 2011.
Ficha técnica:
Terra Firme (Terraferma, 2011) Itália/França. 88 min. Dir: Emanuele Crialese. Rot: Vittorio Moroni e Emanuele Crialese. Elenco: Filippo Pucillo, Donatella Finocchiaro, Beppe Fiorello, Mimmo Cuticchio, Martina Codecasa, Tiziana Lodato, Claudio Santamaria, Filippo Scarafia, Timnit T., Pierpaolo Spollon, Rubel Tsegay Abraha, Lois Clottey.
