Terrifier 2 chega aos cinemas brasileiros no final de dezembro de 2022 sendo vendido como “o filme de terror mais perturbador do ano”. Então, para me preparar, fui conferir o primeiro Terrifier (2016), que a Prime Video espertamente colocou em seu catálogo agora.
O palhaço assassino Art, do cineasta Damien Leone, já tinha dado suas caras nas telas. Ele aparecera num curta-metragem homônimo de 2011 e no longa All Hallow’s Eye (2013), porém, interpretado por outro ator. Mas Art the Clown ganha notoriedade quando David Howard Thornton assume o papel. Ele lhe conferindo uma personalidade distinta, marcada por sua mudez e suas expressões faciais e corporais que remetem ao trabalho dos mímicos.
Acima de tudo, perturbar devia ser o objetivo maior de Damien Leone. No entanto, os filmes do gênero cresceram em brutalidade desde que, há quase cinquenta anos, Tobe Hopper abriu as porteiras do horror explícito em O Massacre da Serra Elétrica (The Texas Chain Saw Massacre, 1974). Assim, quão extremo é preciso chegar para perturbar o público de hoje?
Confesso que pelo menos esse objetivo Terrifier (também conhecido como Aterrorizante) atinge. No ponto máximo de seu extremismo, o sádico Art corta sua vítima, que está pendurada no teto pelos pés, com uma serrinha para ferro (aquela com dentes finos e pequenos) começando pelas partes íntimas e descendo até sua cabeça. Sem dúvida, uma cena das mais grotescas que já vi num filme, mas que faz sentido na narrativa, pois ela marca o clímax do terror do filme, e exponencia o medo da protagonista Tara Heyes (Jenna Kanell), testemunha desse crime hediondo.
A ausência de Tara
Pena que esse momento se aproxime também do pico emocional do filme em si. Alguns minutos depois dele, Tara Heyes sai de cena. E isso representa uma grande perda para a história, pois é sem dúvida a sua melhor personagem além do vilão. Até esse momento os fãs do terror alimentavam uma expectativa de Tara assumir uma persona similar à de Laurie de Halloween (1978), inclusive por se passar na mesma época do ano. Ou seja, a da vítima preferida (as cenas iniciais de Terrifier claramente indicam isso), esperta e corajosa, que enfrenta, sofre, mas resiste aos ataques do serial killer.
A frustração se torna ainda mais gritante porque Art the Clown recorre a um revólver, o que destrói todo o mito que esse assassino vinha acumulando até então. De fato, é um enorme erro o uso de uma arma de fogo pelo serial killer, tanto que nunca vimos isso nos demais slashers.
Desse momento em diante, o filme vai ladeira abaixo. Outras mortes grotescas acontecem, mas mostradas com rapidez exagerada, talvez para disfarçar a precariedade dos efeitos especiais, que agora começam a incomodar. No lugar de Tara, entra na trama sua irmã Victoria (Samantha Scaffidi), a quem não tivemos oportunidade ainda de conhecer devidamente. Dessa forma, não sentimos por ela a mesma empatia que tivemos pela protagonista anterior. Além disso, as ideias ficam mais pobres, culminando num desfecho que parece atirar para todos os lados, inclusive para um sobrenatural que nunca fez parte do enredo.
Em suma, Terrifier atende as expectativas de quem espera um slasher brutal, com um novo serial killer potencialmente icônico, até a sua primeira metade. Depois, se perde, entra num ritmo acelerado e conclui mal. Resta agora aguardar para conferir se Terrifier 2 aproveita melhor esse novo palhaço assassino.
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Ficha técnica:
Terrifier | 2016 | 85 min | EUA | Direção e roteiro: Damien Leone | Elenco: Jenna Kanell, Samantha Scaffidi, David Howard Thornton, Catherine Corcoran, Pooya Mohseni, Matt McAllister, Michael Leavy.
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