O humor ácido representa um grande desafio para qualquer cineasta. Como fazer rir de uma situação ruim em sua essência? O tom precisa estar perfeitamente ajustado, caso contrário, pode não ser nada engraçado ou, o que é pior, ofender. Desafio grande demais para a diretora Nicol Paone enfrentar em seu segundo filme, este The Kill Room.
Lavagem de dinheiro
Nicol Paone demonstra talento no início do filme. Na primeira cena, um saco plástico voa pelas ruas da cidade. Uma narração de podcast noticia uma série de assassinatos que usam esse objeto para asfixiar as vítimas, enquanto vemos o serial killer em ação. As manchas de uma de suas execuções, então, servem de transição para a cena seguinte, que começa com um quadro numa galeria de arte. A dona da galeria, Patrice (Uma Thurman), tenta em vão atrair compradores para as obras de sua filha Grace (Maya Hawke, a filha de verdade de Uma com Ethan Hawke). Na verdade, seu negócio está falido.
Outro ator de Pulp Fiction (1994), Samuel L. Jackson, entra em cena, interpretando Gordon. Ele tem uma padaria como fachada, mas é um traficante de drogas que precisa arrumar um novo esquema para lavar dinheiro sujo. Assim, a sua necessidade acaba encontrando a de Patrice para uma solução engenhosa. Gordon vende um quadro qualquer por um alto valor para um colecionador anônimo. O quadro ele pede para seu contratado, o serial killer do começo do filme, pintar,. Dessa forma, ele legaliza o dinheiro que entra e Patrice ganha a comissão de praxe. Como arte é um objeto que os fiscais da Receita Federal não conseguem avaliar, o negócio não pode ser contestado.
Para surpresa de todos, o quadro que o assassino Reggie (Joe Manganiello) pinta ganha notoriedade no meio dos colecionadores de arte. Logo, suas obras se tornam altamente requisitadas, e valiosas. Surge, porém, um dilema, pois a oportunidade desse negócio lucrativo pode revelar a identidade do serial killer.
Arte sem inspiração
The Kill Room sofre muito para contar essa estória. No lugar das belas soluções imagéticas da sua parte inicial, entram longos diálogos para explicar esse esquema todo. Além disso, a ausência de uma trilha musical marcante e as atuações sérias não deixam fluir o humor ácido que deveria emanar dessas cenas. Diante desses problemas, o filme se torna entediante.
Por fim, surge ainda outra questão, a de fechar o enredo. E a solução da parte final soa forçada, artificial mesmo para a comédia farsesca. Com Uma Thurman e Samuel L. Jackson à disposição, faltou aí uma inspiração tarantiniana para trabalhar a violência no tom adequado ao humor pretendido.
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Ficha técnica de “The Kill Room”:
The Kill Room | 2023 | 98 min | EUA | Direção: Nicol Paone | Roteiro: Jonathan Jacobson | Elenco: Uma Thurman, Joe Manganiello, Samuel L. Jackson, Amy Keum, Maya Hawke, Zora Casebere, Dree Hemigway, Jennifer Kim, Larry Pine, Candy Buckley.