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The Royal Hotel (filme)
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The Royal Hotel

Avaliação:
5.5/10

5.5/10

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Crítica | Ficha técnica

A diretora Kitty Green denuncia novamente o abuso sexual contra mulheres, como fez no documentário Ukraine is not a Brothel (2013) e na ótima ficção A Assistente (The Assistant, 2019). Desta vez, em The Royal Hotel, ela tenta um ataque mais agressivo, a fim de equilibrar as forças com o ambiente violentamente machista das regiões desertas e isoladas da Austrália, seu país de origem. O filme é um falso terror, ou falso ozploitation (considerando a região), pois o assustador está no ambiente e não em cenas sanguinolentas.

A trama acompanha Hanna (Julia Garner, a protagonista de A Assistente) e Liv (Jessica Henwick), duas jovens canadenses que querem viajar para bem longe para se esquecerem do dia-a-dia em suas férias. Mas, quando o dinheiro acaba, aceitam trabalhar como atendentes num bar em um local afastado. A clientela do estabelecimento é quase toda masculina, pois são os trabalhadores de uma mineradora ali perto. O caos reina todas as noites, e as garotas precisam ouvir todo tipo de piadas sexistas e cantadas grosseiras. Diante disso, Hanna quer ir embora, mas Liv encara numa boa e tenta se divertir com a situação.

Nenhum homem presta

O filme se concentra na perspectiva de Hanna. Para ela, ali há um alto risco de serem estupradas. Ainda mais porque nenhum homem parece confiável. O dono do bar talvez pudesse protegê-las, pois todos os respeitam. O problema é que ele está sempre bêbado. O rapaz jovem não parece agressivo, faz seus galanteios de maneira apropriada e até leva as garotas para um passeio num rio. Mas um cliente endinheirado consegue influenciá-lo facilmente, e esse cara é sem dúvida bem asqueroso. Tem ainda um grandalhão que parece bem intencionado, porém ele fica obcecado demais por uma das protagonistas.

Além disso, chega ao local um paquera de Hanna, que ela conheceu em um passeio de barco antes de virem para esse local. Porém, esse tipo é um daqueles bobalhões desmiolados que enchem a cara e agem como aqueles universitários atléticos das comédias besteirol americanas. Por ser sueco, esse personagem serve para indicar que essa ojeriza que o filme sustenta em relação aos homens inclui todos e não apenas os australianos do deserto.

O medo não existe?

Ao contar a narrativa sob o ponto de vista de Hanna, surgem alguns questionamentos, explícitos no próprio enredo. O medo que ela sente realmente existe, ou ela está exagerando? Estariam certas Liv e as garotas inglesas que as antecederam na opção de aproveitarem a situação e se divertirem? Essa dúvida, na verdade, desperta um interesse maior do que uma interpretação simplista sobre homens predadores contra mulheres vítimas. O filme, porém, titubeia entre manter essas hipóteses e afirmar que nenhum homem presta.

Posto isso, The Royal Hotel consegue quebrar a institucionalização das vítimas femininas nos filmes de terror, pois aqui nenhuma mulher se sujeita a esse papel. No entanto, ao encerrar com um ato extremo que consolida a posição de Hanna, o filme assume um conservadorismo que vai contra o empoderamento feminino. Parece que as mulheres são passivas em relação a sexo, como se não pudessem agir ativamente em busca do que querem. E essa impressão poderia ser evitada com pelo menos uma das protagonistas escolhendo quando e com quem querem ir para a cama. Liv caminha para tomar essa iniciativa, mesmo quando não está bêbada, mas Hanna sempre a impede.

Além disso, em vários momentos surge um clima de suspense com uma mal colocada música sinistra de fundo, mas nada acontece e a trilha se dissipa. É estranha essa decisão de não mostrar a real violência para a qual, provavelmente, aquele cliente rico (ou outro homem do local) apelaria. Antes que isso aconteça, Hanna sempre entra com uma reação defensiva. Já que parece clara a intenção da diretora Kitty Green de universalizar os homens como predadores, como atesta a conclusão explosiva, então, por que não assumir essa posição? Manter a dúvida quando esta, de fato, não existe para a cineasta parece uma estratégia para elevar o filme para além do terror. Mas, com essa decisão, The Royal Hotel perde sua força.

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Ficha técnica:

The Royal Hotel | 2023 | 91 min | Austrália | Direção: Kitty Green | Roteiro: Oscar Redding | Elenco: Julia Garner, Jessica Henwick, Hugo Weaving, Toby Wallace, Daniel Henshall, Herbert Nordrum, Ursula Yovich, James Frecheville, Nic Darrigo, Adam Morgan.

O filme The Royal Hotel está na programação da 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.  

Trailer aqui.

Onde assistir:
The Royal Hotel (filme)
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