The Square – A Arte da Discórdia ironiza o mundo da comercialização das artes ao focar o curto mandato de Christian (Claes Bang) no cargo de diretor de um museu em Estocolmo, na Suécia.
Christian demonstra total inaptidão para o posto logo nas primeiras cenas do filme, quando a repórter Anne (Elisabeth Moss) o entrevista. Suas respostas superficiais não são suficientes para responder uma pergunta mais elaborada.
Desdém pela arte
O desdém pela arte não para na nomeação desse novo diretor incompetente. Para começar, trabalhadores tentam transportar uma estátua na entrada do museu e a peça despenca do guindaste, destruindo-a. Depois, outros arrancam parte do belo piso de pedra, aparentemente construído há séculos, para a instalação de luzes de neon que compõem uma obra nova que consiste em um quadrado. Nele, está a frase: “The Square is a sanctuary of trust and caring. Within it we all share equal rights and obligations.” (tradução: “O Quadrado é um santuário de confiança e cuidado. Dentro dele todos compartilhamos os mesmos direitos e obrigações.”
As expectativas de sucesso do lançamento dessa obra são imensas para Christian. Por isso, ele contrata uma agência de publicidade para criar uma campanha de divulgação polêmica. Mas, como ele está mais preocupado em recuperar sua carteira e seu celular que foram furtados, ele não acompanha o trabalho da agência, que solta um vídeo perturbador.
Aliás, Christian não é incompetente somente no trabalho. Além de não medir esforços para recuperar os bens furtados, ele também se aproveita da repórter Anne, que ele leva para a cama na primeira oportunidade. Essa sequência com Anne comprova que ele está fora do Quadrado da sua obra, porque ele hesita em entregar a ela a camisinha com seu esperma para ela jogar fora, desconfiando que ela poderá usar o sêmen para ficar grávida. Nesse sentido, é recorrente o enquadramento de escadarias vistas de cima, que Christian desce ou sobe, como se à margem do quadrado formado pelas escadas.
A cena do jantar
A cena do jantar chique que ele promove é marcante. Um ator, personificando um chipanzé, circula pelas mesas dos convidados do museu. Quando implica com alguém, pode se tornar agressivo, e o que era para ser uma mera representação se mostra um perigo real. Dessa forma, esse animal ameaçador faz eco com o chimpanzé que Christian vê no apartamento de Anne quando passa a noite lá. Ou seja, ele também representa esse ser movido exclusivamente pelo instinto, uma ameaça à sociedade civilizada. É o verdadeiro lixo humano, que não consegue viver dentro do quadrado.
Elisabeth Moss, que ganhou vários prêmios recentes por sua atuação na série O Conto da Aia (The Handmaid’s Tale) é o grande nome do elenco. Aliás, sua popularidade ajuda a nos simpatizarmos com sua personagem. Com isso, fortalece a crítica à exploração comercial da arte por pessoas em posição de poder que não possuem nenhuma sensibilidade para valorizar a arte. E nem a vida.
Enfim, The Square – A Arte da Discórdia se enquadra no gênero “filme de arte” e aborda a arte em si. Como bom exemplar do gênero, permite várias interpretações, e não entrega seus propósitos de forma direta. Não agradará a todos, mas mexeu com o júri do Festival de Cannes, que lhe concedeu a Palma de Ouro, prêmio máximo do evento.
Ficha técnica:
The Square – A Arte da Discórdia (The Square, 2017) Alemanha/França, 142 min. Direção e roteiro: Ruben Östlund. Elenco: Claes Bang, Elisabeth Moss, Dominic West, Terry Notary, Christopher Læssø.
Pandora Filmes
Trailer:
Assista: entrevista de Elisabeth Moss sobre The Square – A Arte da Discórdia