Para uma banda com uma história tão singular, The Zombies: Hung Up on a Dream traz uma narrativa um bocado genérica. A banda The Zombies, formada por Rod Argent (teclado), Paul Atkinson (guitarra), Colin Blunstone (vocal), Hugh Grundy (bateria) e Chris White (baixo), formada em 1961, alcançou o top 1 das paradas britânicas com o primeiro single, “She’s Not There”, que integrava o LP de estreia, apropriadamente intitulado “Begin Here” (1965). O segundo álbum, “Odessey and Oracle” (1968), era muito mais ambicioso e inovador. Mas, por isso, foi mal recebido na época do lançamento, e os integrantes, precipitadamente, encerraram as atividades da banda. Cada um tomou seu próprio rumo, seja como músico, empregado na indústria musical ou em trabalhos comuns. Com o tempo, “Odessey and Oracle” recebeu reavaliações positivas, até ser considerado um dos melhores discos de todos os tempos.
Entrevistas individuais
O filme conta essa história a partir dos relatos dos membros da banda, exceto por Paul Atkinson, já falecido e representado aqui pela sua filha. Assim, não há nenhuma ousadia no formato do documentário, que consiste em entrevistas individuais com cada um, agrupadas conforme o assunto. Mas em nenhum momento deixa de ser interessante, porque todos são muito simpáticos e bem articulados. E resgatam, com emoção, alguns fatos que marcaram essa curta trajetória. Por exemplo, a turnê pelos Estados Unidos que os reuniu, ainda todos muito jovens, com músicos já famosos, numa bela camaradagem.
Colin Blunstone é quem mais fala. Sem lamúrias ou auto-piedade, ele evidencia o que acarretou na decisão de encerrarem o The Zombies. Segundo ele, após o sucesso do primeiro single, vieram várias apresentações ao vivo. Mas, principalmente nas turnês internacionais, os músicos perceberam que pouco dinheiro sobrava para eles. Ou seja, como aconteceu com outros artistas da época, o empresário estava embolsando quase toda a receita. Diante disso, resolveram produzir eles mesmos o segundo álbum, “Odyssey and Oracle”. Entraram no Abbey Road Studios e deram tudo de si, trabalhando arduamente num orçamento apertado. Então, quando o disco saiu e teve uma recepção fria, o golpe foi duro demais.
Azarões que emocionam
The Zombies: Hung Up on a Dream dá vazão, ainda, ao que viria a acontecer posteriormente. Cobre a trajetória pós-Zombies dos integrantes, mas o mais emocionante está nas imagens do último show com todos os membros originais juntos, no House of Blues em Los Angeles. Paul Atkinson já estava muito doente, e viria a falecer poucas semanas depois. Além disso, o filme mostra a tocante homenagem que a banda recebeu ao entrarem para o Rock & Roll Hall of Fame. E ainda registra os recentes trabalhos juntos, já com alguns membros adicionais. Tudo isso induz o mesmo gosto agridoce dos azarões do rock, aqueles que nunca alcançaram o sucesso estrondoso que outros, até menos merecedores, conseguiram. Lembra muito o tom de outro documentário musical, o emocionante Anvil (2008), de Sacha Gervasi.
Fora as entrevistas individuais, o documentário tem o mérito de reunir os integrantes numa visita ao estúdio Abbey Road. O diretor do filme, Robert Schwartzman, consegue captar a emoção dos envolvidos tanto nesse momento como nos depoimentos em separado. O cineasta, que até então fez três longas ficcionais no gênero comédia, estreia aqui no documentário. Enquanto acerta nos registros que filma, pisa na bola ao encher a tela com imagens desnecessárias durante os relatos, ilustrando o que o entrevistado fala de maneira irritantemente simplória. Por exemplo, quando Colin Blunstone comenta sobre o enorme barulho da plateia numa competição musical, e compara com um evento esportivo, Schwatzman coloca na tela um trecho de um jogo de futebol. Apesar disso, The Zombies: Hung Up on a Dream emociona, por conta da sinceridade desses underdogs eternizados por uma obra-prima de apreciação tardia.
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Ficha técnica:
The Zombies: Hung Up on a Dream | 2023 | EUA | 116 min | Direção: Robert Schwartzman | Com Rod Argent, Paul Atkinson, Colin Blunstone, Hugh Grundy, Søren Koch, Steve Rodford, Tom Toomey, Chris White.
O filme está na programação do festival In-Edit Brasil 2023.