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Todos Porcos (filme)
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Todos Porcos

Avaliação:
9/10

9/10

Crítica | Ficha técnica

Shohei Imamura decide o rumo de sua carreira em “Todos Porcos”

“Todos Porcos” é o quinto filme da carreira do diretor japonês Shohei Imamura. E o primeiro em que ele flerta com as ousadias da nouvelle vague japonesa, apesar de ainda manter fortes traços do cinema clássico. Além disso, evidencia até no título sua obsessão por analogias entre o ser humano e os animais.

No período após a Segunda Guerra Mundial, a ocupação militar dos Estados Unidos provoca mudanças na rotina das cidades japonesas. Na pequena cidade onde se desenrola a história de “Todos Porcos”, a base militar americana ilustra a origem do movimento panorâmico da câmera de Imamura, levando o espectador a percorrer com os olhos o caminho costumeiro dos soldados até o bairro boêmio, em busca de bebidas e mulheres. É lá que conhecemos Kinta (Hiroyuki Nagato), ganhando a vida ao atrair os americanos para os bordéis. Após o vermos em ação, ele se encontra com sua namorada Haruko (Jitsuko Yoshimura), a quem conta que começará a trabalhar com transporte de porcos.

Esse negócio é dominado por mafiosos, que ganham muito dinheiro com a venda dos suínos para os americanos. Kinta tem a oportunidade de ter mais renda, como seu irmão mais velho já faz, mas entrará num mundo violento e arriscado. É o início do conflito no relacionamento do casal protagonista, pois Haruko não aceita esse novo emprego do namorado, e deseja que partam para uma cidade grande em busca de oportunidades mais decentes.

Invasão dos porcos

A briga mais dura entre os jovens enseja as cenas antológicas de “Todos Porcos”. De um lado, Haruko se revolta e decide ir para a boate se embebedar e dançar. Acaba se insinuando para soldados americanos, que, como animais no cio, se juntam em um grupo de três e levam a garota para um quarto. A sequência do seu estupro coletivo não precisa de nudez ou sexo para chocar, a violência que atordoa o espectador vem do posicionamento da câmera no teto, filmando em plongée, e ainda girando rapidamente em 360 graus. Um enquadramento ousado que quebra com o padrão clássico e se aproxima da liberdade da nouvelle vague. Enquanto isso, Kinta descobre de forma chocante o destino dos corpos das vítimas dos mafiosos, em outro momento inesquecível.

Então, o caos cresce até explodir na tela com uma invasão dos porcos no bairro boêmio, paralelamente ao enlouquecimento de Kinta. Fica clara a mistura física dos mafiosos com os suínos, como se pertencessem à mesma raça. A crítica social de Imamura está subentendida.

Domínio americano

Não só os mafiosos e as prostitutas, mas o povo japonês em geral se vende para os americanos, que os compra como adquire os porcos. Haruko, no filme, é a única que enxerga essa situação e, ao final, parte sozinha para a cidade grande, deixando para trás Kinta e todos que se submetem ao domínio americano. Aliás, como sua irmã que se entrega a eles com a ilusão de se casar com um deles. Um close-up mostra seu semblante decidido. E outro plano geral tomado do alto, que enquadra parte do bairro boêmio e a estação de trem, mostra Haruko caminhando para o trem, enquanto outras garotas que acabaram de desembarcar dele, correm em direção a um barco cheio de marinheiros americanos.

Enfim, a personagem Haruko, ao demonstrar a atitude corajosa de decidir conscientemente sobre os rumos a tomar. Ao seguir em movimento contrário da maioria, representa um paralelo do que ocorria na cabeça do próprio Imamura como cineasta. A partir daí, tomaria rumos distintos do cinema predominante, em filmes originais e pessoais que o colocariam como um dos representantes da noberu vagu.


Ficha técnica:

Todos Porcos (Buta to gunkan, 1961) 108 min. Dir: Shohei Imamura. Rot: Hisashi Yamanouchi, Gisashi Yamauchi. Com Hiroyuki Nagato, Jitsuko Yoshimura, Masao Mishima, Tetsuro Tanba, Shiro Osaka, Takeshi Kato, Shoichi Ozawa, Yoko Minamida, Hideo Sato, Eijiro Tono, Akira Yamauchi, Sanae Nakahara.

Assista: entrevista com Shohei Imamura

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