É dolorido assistir ao filme alemão Transtorno Explosivo. Sua história acompanha alguns meses da vida de Benni, uma menina de nove anos que sofre com constantes surtos de raiva. Em instantes, ela deixa de ser adorável para se tornar abominável, capaz de agressões terríveis.
Ao longo do filme, compartilhamos o sofrimento das pessoas encarregadas de cuidar de Benni. Como elas, inevitavelmente nos afeiçoamos a essa criança que, na verdade, é muito meiga. Porém, muito carente da mãe, que o longa não esconde ser a causa do distúrbio. Sem revelar o que de fato aconteceu no início de sua infância, sabemos que ela carrega um trauma que a faz rejeitar qualquer toque em seu rosto. Tal gesto é um gatilho para ela explodir de cólera.
Escrito e dirigido por Nora Fingscheidt
Em seu segundo longa, a diretora e roteirista Nora Fingscheidt consegue retratar o que se passa na cabeça de Benni em recorrentes sequências de flashes quase indistinguíveis, cuja elucidação surge gradativamente durante o filme. Além disso, Transtorno Explosivo apresenta uma narrativa fragmentada, muito apropriada para transmitir o desnorteamento da protagonista.
Por outro lado, Micha Heller, o assistente escolar que assume um programa individual de educação para Benni, entra em cena discutindo raivosamente ao telefone com alguém. Com isso, esse personagem se distancia de um mestre da paciência que nunca se abala, e surge como uma pessoa como a maioria de nós. Ele não possui métodos milagrosos, mas parecem fundamentados na sinceridade. Assim, ele é amável ou duro conforme a situação o faz se sentir, e Benni responde bem a esse tratamento. Afinal, sinceridade é o que ela nunca encontra na mãe, incapaz de admitir que não tem condições de acolhê-la.
Quando a mãe quebra sua promessa de aceitar Benni de volta a sua casa, o filme nos emociona. Em especial, na cena em que a Sra. Bafané, dos serviços de proteção a crianças, se desmancha em lágrimas, pois sabe o quanto essa notícia será devastadora para a frágil Benni, que, surpreendentemente, tenta consolá-la.
Sem o apoio da mãe, a já difícil recuperação de Benni parece impossível. A conclusão acompanha o ponto de vista de Micha, que não acredita mais que possa evitar os surtos ameaçadores dessa menina essencialmente encantadora. De fato, não estamos diante de um filme de gênero edificante, que levanta os ânimos com uma mensagem de esperança. Pelo contrário, Transtorno Explosivo é um filme arrasador.
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Ficha técnica:
Transtorno Explosivo | Systemsprenger | 2019 | Alemanha | 125 min | Direção e roteiro: Nora Fingscheidt | Elenco: Helena Zengel, Albrecht Schuch, Gabriela Maria Schmeide, Lisa Hagmeister, Melanie Straub, Victoria Trauttmansdorff, Maryam Zaree, Tedros Teclebrhan, Matthias Brenner.
Distribuição: Imovision.
