Trópico Fantasma (filme)
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Trópico Fantasma

Avaliação:
8/10

8/10

Crítica | Ficha técnica

Trópico Fantasma nos lembra como é viver em um ambiente com pessoas que se importam.

O filme de Bas Devos parece até uma versão positiva da Depois de Horas (1985), de Martin Scorsese. Ambos mostram eventos que acontecem após o expediente, numa noite qualquer de seus protagonistas.

No longa americano, o personagem interpretado por Griffin Dunne procura por emoção. Por isso, vai para o bairro do Soho atrás de uma mulher que acaba de conhecer. Porém, enfrenta um infortúnio atrás do outro, e até corre risco de perder a vida. Na essência, o que se sobressai é o comportamento das pessoas, todas indiferentes e até agressivas umas com as outras.

O retorno para casa de Khadija

Já na produção belgo-holandesa, Khadija sai de seu trabalho à noite, como sempre, mas cochila no metrô e desce na estação errada. Como já era o último trem do dia, ela precisa voltar para casa a pé. Ao contrário do que acontece em Depois de Horas, as pessoas com quem ela encontra no trajeto são solícitas, e a ajudam dentro das suas possibilidades.

Inclusive, ela mesmo, não fica indiferente ao morador de rua que ela vê dormindo na noite gelada. Pelo contrário, ela liga para o socorro e os paramédicos o levam para o hospital. E a sua preocupação é sincera, pois na parte final do filme, ela vai até o centro médico para saber se o homem sobreviveu. Então, descobre que ele veio a óbito. Antes de dormir, Khadija se lembrará dele e até de seu cachorro, que ficou amarrado no local onde seu dono estava.

Esse sentimento de solidariedade se estende para a civilidade. Nesse sentido, quando Khadija espiona a casa de uma antiga empregadora, um morador de bairro a aborda para saber se ela tem más intenções. E, logo que descobre que não há riscos, o vizinho vai embora. Da mesma forma, Khadija denuncia aos policiais uma loja que vendeu bebida alcoólica para menores de idade.

Enfim, Trópico Fantasma apresenta atitudes louváveis que, na verdade, se tornaram raras atualmente. Na verdade, estamos mais próximos das situações de Depois de Horas do que das que vemos neste filme.

A direção

O diretor e roteirista Bas Devos leva essa estória simples, porém profunda, através de recursos singelos e cuidadosamente planejados. Por exemplo, a abertura traz um plano estático de uma sala de estar, onde nada acontece por quase três minutos. Então, entra uma narração que fala sobre o passado, e a iluminação vai, gradativamente, diminuindo. Por fim, tudo está escuro, revelando a chegada da noite. No final, esse mesmo cômodo do apartamento de Khadija refletirá a iluminação aumentando, representando o despertar de um novo dia.

Durante o filme, Bas Devos privilegia os planos fixos sequenciados, que contam o trajeto de Khadia no retorno para casa. Alguns desses planos procuram fugir do tradicional – ao invés de deixar tudo limpo e certinho, Devos coloca objetos em primeiro plano, e o personagem ao fundo. Porém, o filme não se preocupa em manter uma rigidez formal restringindo-se somente a esses recursos. A câmera se movimenta, acompanhando a protagonista pelas ruas. E, também, sobre um carro, para retratar o longo percurso que ela caminhou.

A trilha sonora que acompanha essa jornada é um tema suave dedilhado em violão acústico. Com isso, o clima desse retorno é de sossego, muito diferente do frenesi de Depois de Horas. E, isso, graças à atitude solidária das pessoas.

Anteriormente, Bas Devos ganhou destaque a partir do seu filme Violet (2014). Com ele, ganhou o Grand Prix of the Generation 14 Plus no Festival de Berlin.

Conclusão

Por fim, a conclusão derradeira de Trópico Fantasma traz uma breve cena com uma garota e seus amigos em uma praia. O cenário se parece com o cartaz que Khadija observa na vitrine de uma agência de viagens no retorno para casa. Aparentemente, esse epílogo pode significar que ela comprou uma viagem para a filha. Ou então, uma lembrança dela mesmo de sua infância.

Enfim, seja lá qual for a sua interpretação desse final, o mais essencial é o retrato de uma vida em sociedade que hoje parece ser até utópica.

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Ficha técnica:

Trópico Fantasma (Ghost Tropic) 2019. Bélgica/Holanda. 85 min. Direção e roteiro: Bas Devos. Elenco: Saadia Bentaïeb, Laurent Kumba, Jovial Mbenga, Stefan Gota, Maaike Neuville, Nora Dari.

Distribuição: Supo Mungam Plus.

Onde assistir:
Trópico Fantasma (filme)
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