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Um Céu de Estrelas (filme)
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Um Céu de Estrelas

Avaliação:
7/10

7/10

Crítica | Ficha técnica

Ao partir de uma construção realista, Um Céu de Estrelas explode sua violência absurda nas telas do cotidiano urbano. Com isso, individualiza uma das muitas tragédias noticiadas diariamente na televisão. E seu impacto é potencializado em proporção maior do que a diferença do tamanho da tela do televisor e da sala do cinema.

Antes do filme em si, há um prólogo que injeta uma tensão desconfortável no espectador. Na verdade, é um cinema experimental que apresenta em colagens de fotos e planos curtos com enquadramentos estranhos. O assunto deles são as pessoas e as construções da Mooca, bairro industrial de São Paulo. Nesse trecho, que dura oito minutos, a câmera capta a realidade, mas a montagem a transforma em uma introdução perturbadora. É como se a intenção fosse colocar o espectador no mesmo nível de tensão que esse ambiente provoca nos personagens que entrarão logo após o título do filme.

Uma casa na Mooca

Analogamente, a estória se passa em uma casa de classe baixa no bairro da Mooca. De cara, a impressão que temos é que a direção de arte de Um Céu de Estrelas aproveitou tudo o que havia nessa casa como cenário e objetos de cena. Afinal, o que vemos nesse espaço pequeno transpira autenticidade. E isso é essencial para o filme, pois praticamente toda a trama se passa lá dentro.

Nessa casa, vive Dalva, uma jovem que se prepara para viajar para Miami, como prêmio por vencer um concurso de cabelereiras. Porém, seu ex-noivo Victor chega de repente, e se recusa a ir embora, mesmo diante dos pedidos da moça. Quando a mãe de Dalva volta das compras, o clima fica ainda mais tenso. Logo, explode uma violência descomedida, e o caso entra ao vivo no noticiário da TV.

Antes do frenesi, Um Céu de Estrelas parece caminhar para o teatro filmado. Afinal, o cenário é único, e a ação envolve apenas dois personagens discutindo. Além disso, a dupla alterna o tom emocional, característica comum do palco. Mas, logo essa impressão se dissipa, pois a diretora Tata Amaral faz sua estreia em longas utilizando muitos planos próximos dos personagens, bem como uma câmera em constante movimento. Como resultado, o espectador não fica observando a cena de longe, da plateia, mas lado a lado com os protagonistas.

Insanos

À medida que a tensão cresce, mais insanos ficam Victor e Dalva. Nesse sentido, o rapaz é quem age ativamente com violência inexplicável, mas a moça reage com similar insensatez. Por exemplo, após uma tragédia, os dois praticam sexo com violência, como se fossem animais e não mais humanos. A partir de então, a situação perde o controle e parece não haver uma saída pacífica para o imbróglio. Como último recurso, Dalva reza para que tudo acabe bem, numa bela cena em que uma luz vem lateralmente de cima, como que a santificando.

Um Céu de Estrelas consegue imprimir um retrato realista da violência urbana, através de uma mise-en-scène autêntica que se contrapõe com um estilo de filmagem imersivo, que coloca o espectador dentro desse drama trágico. Ainda que o comportamento irracional dos personagens provoque uma imediata aversão do público, o filme apresenta um relato possível nessa selva de pedra habitada por humanos que, às vezes, se comportam como animais.

Depois, Tata Amaral voltaria a retratar a violência urbana em outro formato atualizado, no filme Sequestro Relâmpago (2018).

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Ficha técnica:

Um Céu de Estrelas (1996) Brasil. 70 min. Direção: Tata Amaral. Roteiro: Jean-Claude Bernadet, Márcio Ferrari, Roberto Moreira. Elenco: Paulo Vespúcio, Leona Cavalli, Lígia Cortez, Néa Simões, Norival Rizzo, Rosa Petrim.

Onde assistir:
Um Céu de Estrelas (filme)
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