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Um Conto Chinês (filme)
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Um Conto Chinês

Avaliação:
8/10

8/10

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Crítica | Ficha técnica

O prólogo de “Um Conto Chinês” transporta o espectador para uma província chinesa, onde um casal local troca juras de amor dentro de um barco em um belo lago. Eis que, no instante em que o rapaz entregaria a aliança de pedido de casamento, uma vaca cai do céu e mata a sua noiva. Nenhum elemento externo, como uma trilha sonora engraçadinha, permite sabermos se a situação inusitada retrata um drama ou uma comédia. Dali para a frente, diretor Sebastián Borensztein equilibra os dois gêneros durante todo o filme.

A trama

A tragédia pessoal do chinês o leva para a Argentina. Logo que chega, é roubado por um taxista e jogado na rua, ao lado de Roberto (Ricardo Darín), que passava o tempo ali observando pousos dos aviões no aeroporto de Buenos Aires. Jun (Ignacio Huang), o rapaz, não fala uma palavra sequer em espanhol, mas Roberto resolve ajuda-lo, após relutar bastante.

O destino de Jun seria encontrar seu tio, mas este não mora mais no antigo endereço. Sem melhor opção, Roberto o acolhe em sua casa até que a embaixada da China localize o tio, com a condição de um prazo máximo de uma semana. A presença do inesperado convidado mudará a rotina meticulosa do solitário Roberto.

Análise

A estória poderia resultar em mais um filme sobre duas pessoas que não se bicam a princípio e que constroem uma gradativa relação de amizade. Ou, então, sobre um homem durão que acaba se tornando uma pessoa melhor ao final. A rigor, “Um Conto Chinês” se encaixa nesses dois arquétipos. Porém, a forma criativa como Sebastián Borensztein contrói a narrativa eleva-o para um patamar acima da média.

Para conectar a situação do prólogo na China com a transposição da estória para o outro lado do mundo, Borensztein introduz Buenos Aires com a imagem invertida, de ponta cabeça, girando-a até tomar a perspectiva regular. A câmera parte do plano geral da rua, para dentro da loja de Roberto, através de um travelling que atravessa a porta de vidro. Esse movimento intriga o espectador, incapaz de entender o truque utilizado para lograr esse feito. Aliás, Alfred Hitchcock conseguiu o mesmo efeito em “Pavor nos Bastidores” (Stage Fright, 1950).

Comunicando através de imagens

Borensztein apresenta o personagem Roberto, construído com muita consistência, através da linguagem visual. Assim, vemos que ele trabalha sozinho na sua loja de ferramentas. E compra presentes para sua falecida mãe, para quem mantém um móvel com porta de vidro que se assemelha a um mini altar. Além disso, fala sozinho enquanto cozinha e mantém várias coleções em sua casa. Por fim, só apaga a luz do quarto para dormir quando o seu rádio relógio marca exatamente onze horas da noite. Dessa forma, com essa sequência de imagens, o espectador conclui que o protagonista é solitário, metódico e ainda não superou a morte da mãe.

A preferência por comunicar através de imagens continua por todo o filme. Por exemplo, quando Roberto pede que a família chinesa, aquela que descobre que Jun não é o sobrinho do patriarca, cuide dele por serem da mesma origem, não ouvimos a resposta. Contudo, vemos o carro deles partir, com a câmera enquadrando a lateral do veículo. Quando toda a extensão dele passa pela câmera, Roberto e Jun permanecem juntos na calçada, explicitando que a família negou a ajuda.

De fato, o filme até convida o espectador a pensar a partir das imagens. Nesse sentido, há um simbolismo que une o inicio e o final, tendo como gancho a figura da vaca. Ela representa o estopim que leva Jun a se mudar para a Argentina, e o desenho que este deixa no quintal da casa de Roberto instiga-o a ir atrás da mulher que está atraída por ele. Então, ao buscá-la, encontra-a justamente ordenhando uma vaca.

“Um Conto Chinês” é um filme delicioso de se assistir. Através da alternância de momentos cômicos com outros dramáticos, contar uma estória sobre mudanças que fazem as pessoas caminharem para frente.


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