Um Pequeno Grande Plano (La Croisade) marca o terceiro longa do diretor e ator Louis Garrel. É quase um conto fantástico, escrito por Garrel junto com o grande Jean-Claude Carrière, que morreu em fevereiro de 2021. Talvez seja a mensagem de despedida de Carrière para a humanidade, um último apelo para salvar a Terra. Aliás, além de ser colaborador frequente nos filmes de Philippe Garrel (pai de Louis Garrel), o roteirista já havia escrito um roteiro para Louis – Um Homem Fiel, de 2018.
O filme é um grito de esperança, mas também um aviso. Ainda há tempo para salvar o planeta, mas, para isso, as pessoas precisam se mexer. A salvação, segundo a trama, está nas mãos da nova geração. Assim, as crianças, à revelia dos adultos, colocam em marcha um plano mirabolante que envolve vários países. Um dos ativistas é Joseph (Joseph Engel), filho de 13 anos de Marianne (Laetitia Casta, esposa do diretor na vida real) e Abel (Louis Garrel). Além de vender alguns bens dele e dos pais, Joseph atua fortemente no projeto. A mãe fica maravilhada e apoia o filho, mas o pai resiste.
As críticas expressadas pelas crianças empenhadas em salvar o mundo se direcionam a todos que permitiram que chegássemos ao alarmante estado atual. O Brasil é diretamente citado: “Vamos fazer o contrário dos brasileiros, que derrubaram as florestas na Amazônia. Vamos cobrir metade da África com florestas.”, diz um dos protagonistas. Mas o filme aponta o dedo a todos. Por exemplo, quando Abel quer contribuir separando o lixo reciclável, sua esposa o olha com desdém, porque isso é muito pouco.
Características de filme indie
Esse engajamento evidente encontramos no cinema independente. Provavelmente por isso o diretor Louis Garrel emprega a câmera na mão em várias cenas internas no apartamento dos protagonistas. São tomadas sem corte, com a câmera se movimentando de um personagem ao outro, de acordo com as falas. Recurso que economiza tempo e dinheiro nas produções indies, mas aqui usado para se aproximar dessa linguagem.
Contudo, Um Pequeno Grande Plano cai também na sinuca de bico dos filmes independentes. Ou seja, parece feito às pressas. Sua primeira parte é desconcertante, desde a descoberta de que Joseph está vendendo objetos da família às escondidas, até a revelação da maquete do plano (belamente construída num bosque à noite). O enredo se sustenta até os primeiros indícios concretos de que a história se passa num futuro próximo, quando o ar fica tão poluído que as pessoas não podem sair às ruas. Mas, daí para frente a trama perde o rumo, não sabe para onde seguir. Tenta criar interesse no amadurecimento do filho, na transformação vagarosa do pai, porém, renderia mais se mantivesse firme na execução do grande plano inicial.
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Ficha técnica:
Um Pequeno Grande Plano | La Croisade | 2021 | 1h06 | França | Direção: Louis Garrel | Roteiro: Jean-Claude Carrière, Louis Garrel, Naïla Guiget | Elenco: Laetitia Casta, Joseph Engel, Louis Garrel, Ilinka Lony, Julia Boème, Lionel Dray.
Distribuição: Synapse.
Obs: o filme está na seleção do Festival Varilux de Cinema Francês 2022.