A diretora Nancy Meyers, de “O Amor Não Tira Férias” (The Holiday, 2006) e “Simplesmente Complicado” (It’s Complicated, 2009), entre outros, mais uma vez lança um filme com seu tradicional viés feminista, que sempre agrada às mulheres. Contudo, “Um Senhor Estagiário” possui a vantagem de atingir outro filão de público, aquele dos aposentados, não importa de qual sexo.
Na história, Jules (Anne Hathaway) é uma empreendedora de e-commerce de moda bem-sucedida, que se vê em problemas quando sua empresa cresce. Os acionistas sugerem que a empresa tenha um CEO profissional, pois entendem que ela está sobrecarregada e que isso, em breve, causará danos ao até agora lucrativo empreendimento. De fato, Jules exagera no microgerenciamento, cuidando pessoalmente de atender reclamações de consumidores e de ensinar como preparar pacotes para o envio. Aliás, até mesmo em sua vida pessoal, ela é incapaz de dedicar tempo à sua família. Por isso, seu marido larga o emprego para ser somente pai da filha do casal, que, por sua vez, pouco vê a mãe.
Sem tomar conhecimento, sua empresa inicia um programa de estagiários sêniores e aí entra em cena Ben (Robert De Niro), um ex-executivo aposentado, viúvo, que decide voltar a trabalhar para que possa se sentir mais útil. Ben acaba sendo alocado para estagiário pessoal de Jules. Idas e vindas acabam transformando-o em um agente de mudança na empresa e, principalmente, na vida pessoal da empresária.
Transições entre protagonistas
Durante o filme, o foco de atenção transita entre esses protagonistas, e, com isso, também o seu tom. Na primeira parte, “Um Senhor Estagiário” acompanha a figura do título, retratando-o como extremamente simpático e logo arrebatando o rapport do espectador, e também dos seus novos colegas de trabalho. Afinal, ele age com boas intenções e se abre para aprender as modernidades do ambiente corporativo. Nessa porção, estamos diante de uma comédia leve.
Na segunda parte, entramos na vida de Jules, que até então conhecemos apenas superficialmente. Junto com Ben, somos apresentados à sua vida familiar, testemunhamos seu relacionamento com o marido e a filha. Compartilhamos, igualmente, os problemas que enfrenta com os acionistas, sendo obrigada a escolher um CEO. O tom dramático cresce, com explosões de lágrimas, até que uma dura descoberta sobre seu marido a coloca frente a frente com a realidade. Mais lágrimas, e Jules deve decidir o destino de sua vida particular e profissional.
Os atores
Robert De Niro, felizmente, consegue aqui um papel interessante, o que não tem acontecido com frequência recentemente. Ele pode construir uma figura simpática, que foge do lugar comum de suas interpretações como homem durão, ou, em comédias, usando isso como pastiche. “O Casamento do Ano” (The Big Wedding, 2013) lidera como um dos exemplos de seus papéis ingratos.
Anne Hathaway, por sua vez, envereda pelos caminhos do drama, rumo que lhe permitiu receber um Oscar de melhor atriz coadjuvante em “Os Miseráveis” (Les Misérables, 2012). Precisa, então, chorar muito, especialmente nas cenas em que recebe a sugestão dos acionistas, na que ele conversa com Ben no quarto de hotel, e na conversa final com seu marido. Despe-se um pouco do glamour, usando figurino simples como jeans e camisa, e convence como uma mulher de negócios como qualquer outra.
Como em “Alguém Tem Que Ceder” (Something’s Gotta Give, 2003), estrelado por Jack Nicholson e Diane Keaton, Nancy Meyers apoia-se em dois grandes atores para dar vida ao seu filme, provando, mais uma vez, ser uma grande diretora de talentos. Essa combinação resulta na simpatia de “Um Senhor Estagiário”.
Por fim, para sermos justos, quando a tradução do título estraga o significado do filme, criticamos. Mas, neste caso, devemos elogiar. “Um Senhor Estagiário” é uma brilhante sacada perante o neutro “The Intern” original.
