O diretor Matt Smukler dirigiu o documentário Wildflower (2020) sobre a história real de uma filha de pais com deficiência intelectual. Agora, ele adapta esse filme para seu primeiro longa ficcional com o mesmo título original, lançado aqui como Uma Família Extraordinária.
O filme começa num tom muito alto. A dinâmica lembra o estilo de Adam McKay, de A Grande Aposta (The Big Short, 2015). Ou seja, narração com pegada cínica e montagem ágil. A voz é de Bea (Kiernan Shipka), que está em coma no hospital. O que ela fala, ela mesmo ou a imagem que está na tela desmente. Diz que algo não vai acontecer e a sequência corta para a cena seguinte que mostra justamente isso acontecendo (o filme utiliza esse truque duas vezes quase seguidas). É nesse tom que Bea conta a história de seus pais, a mãe Sharon (Samantha Hyde), que nasceu com deficiência mental, e o pai Derek (Dash Mihok), que ficou com problemas intelectuais aos 12 anos após um acidente. Mas quase todos os personagens que orbitam esse trio de protagonistas beiram o caricato. Então, somando tudo isso, o filme fica quase insuportável nessa primeira parte.
Entra Kiernan
Contudo, quando Bea se torna adolescente e começa a tomar conta dos pais, o filme começa a melhorar. Alguns dos personagens secundários saem de cena, outros participam menos, e novos chegam e se mostram mais interessantes. O tom fica menos forçado e abre espaço para a esforçada rotina de Bea, que é o centro da trama. Ela é uma garota com QI acima da média, que se desdobra para cuidar dos pais, da casa, da escola e ainda precisa trabalhar. Além disso, entra na jogada um namorado, o que dá oportunidade de colocar um pouco de romance no enredo.
Dessa forma, o filme se torna agradável e conduz suavemente ao grande dilema da protagonista: é certo ela limitar a sua vida por causa dos pais? Uma das últimas cenas do filme traz a resposta, quando Bea volta do coma. Ao chegar em casa, ela percebe que tudo está em ordem, apesar de sua ausência. Aliás, não precisava nem o pai falar expressamente, em trecho posterior, que ele e a mãe dela podem se virar sozinhos.
Mas não é por acaso que o filme melhore quando Bea fica adolescente. Na verdade, é porque entra em cena Kiernan Shipka, aquela menina que já mostrava talento como a filha de Don Draper em Mad Men. E em Uma Família Extraordinária ela encarna à perfeição a esperta, mas ao mesmo tempo imatura, protagonista. Carismática, a jovem atriz carrega o filme nas costas, claro que com apoio dos atores que fazem seus pais (Dash Mihok e Samantha Hyde, muito bons aqui), e apesar de alguns personagens irritantes.
Uma Família Extraordinária supera a má impressão que deixa em sua primeira parte e se desenrola de forma bem agradável.
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Ficha técnica:
Uma Família Extraordinária | Wildflower | 2022 | EUA, Canadá | 105 min | Direção: Matt Smukler | Roteiro: Jana Savage | Elenco: Kiernan Shipka, Dash Mihok, Samantha Hyde, Charlie Plummer, Alexandra Daddario, Jean Smart, Brad Garrett, Reid Scott, Kannon, Ryan Kiera Armstrong.
Distribuição: Diamond Films.