Os médias-metragens Vaga Carne e Sete Anos em Maio chegam aos cinemas em sessões especiais a partir de 1 de abril de 2022 em salas de Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro. Em BH, será no recém-inaugurado Cinema do Centro Cultural Unimed BH – Minas, e, em SP e RJ, no Instituto Moreira Salles de cada uma das cidades.
“A exibição conjunta dos filmes Vaga Carne e Sete Anos em Maio, nas salas de cinemas, seria uma ocasião muito especial para a Embaúba, que pela primeira vez colocaria médias-metragens em cartaz. De fato, foi muito frustrante quando cancelamos o lançamento programado, a apenas uma semana da data de estreia (19 de março de 2020). Isso ocorreu devido à chegada do coronavírus no Brasil e, naquele momento, a exibição de filmes era o menor dos problemas. Logo entendemos que o procedimento mais adequado seria o fechamento dos cinemas e o autoconfinamento, para quem pudesse, evitando a rápida disseminação do vírus. Acabamos fazendo o lançamento dos filmes pela internet, mas hoje, passados mais de dois anos, celebramos a possibilidade de finalmente exibi-los nos cinemas, mesmo que num circuito reduzido. Saudamos as salas de cinema do IMS e do Centro Cultural Unimed-BH Minas, que entenderam ser importante exibir os filmes, mesmo que eles já tivessem sido disponibilizados antes, em plataformas digitais (bem como a Cinemateca Capitólio, que exibiu os filmes quando retomou sua programação). Entendemos que, cada vez mais, os filmes poderão ser acessados de diversas formas, em diversas telas, mas que o cinema segue sendo o lugar ideal, capaz de proporcionar uma experiência inigualável, na fruição de um bom filme. Um viva para as salas de cinema!”, diz Daniel Querioz, diretor da distribuidora Embaúba Filmes.
Dirigido pela atriz Grace Passô, ao lado de Ricardo Alves Jr, Vaga Carne é uma transcriação para as telas do monólogo teatral homônimo, também interpretado por Passô. O filme foi o escolhido para a sessão de abertura da 22ª Mostra de Cinema de Tiradentes.
Compondo a sessão está também Sete Anos em Maio, de Affonso Uchôa (codiretor de Arábia). O filme entrou na seleção de quase 40 festivais pelo mundo e ganhou prêmios em 13 deles, como o Visions Du Réel (filme mais inovador), FilmAdrid, IndieLisboa, Festival do Rio, FestCurtas BH, Janela Internacional de Cinema do Recife e Olhar de Cinema de Curitiba; além de ter feito parte da seleção oficial da Viennale, do festival de Toronto e da 43ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. O filme foi escolhido ainda o melhor “Curta ou média-metragem” de 2019 pela ABRACCINE – Associação Brasileira de Críticos de Cinema.
Em Vaga Carne, uma mulher (Grace Passô), sem saber como se mover no mundo, tem o corpo invadido por uma voz. Tentando refletir sobre esse corpo, a voz ensaia como movê-lo.
Já Sete Anos em Maio conta a história de Rafael, que há sete anos chegava em casa numa noite após o trabalho e se deparou com desconhecidos que o procuravam. Naquele momento, ele saiu carregado de sua casa e nunca mais voltou. Sua vida também nunca mais voltou a ser a mesma.
Vaga Carne e Sete Anos em Maio são dois filmes de extrema relevância no cenário brasileiro atual, mas de circuito restrito, por terem uma duração que não é exibida em circuito comercial de forma usual. “Os médias-metragens geralmente têm dificuldade para serem exibidos até mesmo nos festivais de cinema. Estes dois filmes, além de serem produzidos por importantes artistas da cena mineira, possuem diversos pontos de diálogo e me pareceu que a reunião dos dois, numa mesma sessão, faria muito sentido, para além de permitir a estreia comercial, em salas de cinema.”, explica Queiroz.
Sobre Vaga Carne
O filme é uma transcriação cinematográfica da peça teatral com mesmo nome (vencedora de vários prêmios, dentre eles o Prêmio Shell RJ, Prêmio Questão de Crítica, Prêmio Leda Maria Martins, Prêmio Cesgranrio). “Este ‘desejo de cinema’, esse movimento de articulação de uma linguagem a outra é o que movimenta essa construção”, diz Grace Passô.
Os diretores Ricardo Alves Jr. e Grace Passô são parceiros antigos no cinema e no teatro. Juntos, já dirigiram peças teatrais e, no cinema, Grace atuou em “Elon Não Acredita na Morte”, dirigido por Ricardo. Na sua ficha técnica estão parceiros de trabalho de ambos. “Um trabalho artístico é sempre um movimento que se relaciona com trabalhos anteriores e os parceiros viabilizam esse movimento criativo”, diz Grace.
A produção tem uma abrangente questão social dentro do atual contexto brasileiro, com termos e ideias que rondam as reflexões sobre a nossa sociedade. Para a diretora, “São questões fundamentais e bem antigas, mas que atualmente têm sido pautadas em grupos que não as refletiam antes. A noção de identidade é uma delas e no filme o desejo de uma mulher por encontrar suas identificações sociais não é só afirmativo, cheio de certezas e forte, como alguns querem crer. O desejo de nomear-se é essencial, não é sequer uma escolha e, portanto, o olhar político para si mesma é uma necessidade de sobrevivência: existencial e social”.
As várias linguagens que o texto possibilita é um dos grandes destaques da história, para Ricardo Alves Jr. “O movimento de articulação de uma linguagem a outra é o que torna essa construção interessante. O texto da peça também foi publicado, pela editora Javali. Portanto, Vaga Carne transita entre três linguagens, a literatura, teatro e o cinema”.
Sobre Sete Anos em Maio
Criado como um ensaio sobre as formas de o cinema representar um acontecimento trágico, o filme, rodado entre 2017 e 2018, transita entre diferentes abordagens da linguagem cinematográfica para contar a história da noite em que Rafael dos Santos Rocha foi barbaramente torturado pela polícia. A narrativa parte desde o mais claro “documental”, passando pela fabulação e alegoria. “Nesse processo, o filme conecta a história de Rafael com a história do Brasil, construindo uma ponte entre o particular e o coletivo, contando a história de um jovem de periferia violentado pela polícia como a história de uma multidão”, diz o diretor Affonso Uchôa.
O filme começou com o desejo de Uchoa em contar a história de Rafael e daquela noite em maio. Imediatamente a partir daí, a questão de como filmar essa história se colocou, pois “é uma história forte, simbólica, representativa do país em que vivemos. E por isso mesmo, de potencial emotivo e perigosa em se colocar na tela. Eu busquei fazer da linguagem um fator claramente ativo na representação dessa história, para evitar fazer do cinema mero instrumento de registro”, diz o diretor, que na montagem do filme atingiu o ponto de junção entre linguagem e acontecimento, completando a narrativa: “Acho que em filmes como o Sete Anos em Maio, que se abrem a um método menos rígido e em contato direto com o real, o filme é o que sobrevive ao seu processo, como um depósito de experiência, de vivência.”, completa.
Affonso destaca, também, a importante parceria com o personagem principal de sua história, Rafael dos Santos Rocha, amigo e vizinho de bairro Nacional, em Contagem. “Eu conheço Rafael desde 2005 e quando soube o que tinha acontecido, pensei em fazer um filme com ele que tratasse do que aconteceu com ele de alguma maneira”.
Rafael é o que se convencionou de chamar de “ator não profissional”, assim como os atores dos filmes anteriores de Uchôa, como “Vizinhança do Tigre”. Para o diretor, “Rafael forçava a eu me deslocar um pouco: o filme nasceu de uma história pessoal e violenta vivida por ele. Era como trafegar pelas cicatrizes de alguém: é um processo delicado, que exige muito cuidado e cumplicidade. Foi preciso entender que o processo de criação desse filme teria que ter muito do Rafael, que ele também participaria criativamente do filme e, ao mesmo tempo, foi preciso entender que toda a linguagem e construção do filme deveria estar a serviço de Rafael e da sua história”.
Mostrando algo que é tão presente no cotidiano como a violência policial contra os jovens negros e pardos de periferia, o filme torna o espectador observador do uso desmedido da força policial. “No Brasil, o poder policial tem papel chave na manutenção da nossa obscena desigualdade, age como uma barreira de contenção de sonhos e de revoltas, instaurando o medo como regra e a resignação como base da vida social.”, diz Uchôa. A história de Rafael é simbólica da atuação da polícia nas periferias, em como vidas são transformadas através da violência desmedida, sem cuidado com as suas consequências. “O filme é, pra mim, uma maneira de criar justamente essa instância, a consequência. Fazer com que pelo menos no cinema, o que aconteceu naquela noite não morra em si nem no silêncio.”, completa o diretor.
Confira, abaixo, as programações das exibições.
Programação IMS SP (Avenida Paulista, 149):
01 e 02 de abril: 21h30
05 e 06 de abril: 16h
07 a 10 de abril: 14h
12 e 13 de abril: 14h
28 a 30 de abril: 17h30
Programação IMS RJ (Rua Marquês de São Vicente, 476):
01 e 03 de abril: 18h
10 de abril: 18h
12 e 13 de abril: 18h
Programação Cinema do Centro Cultural Unimed BH – Minas (Rua da Bahia, 2244):
01 a 06 de abril: 19h *sessão comentada no dia 01 de abril, 19h, com a participação dos diretores Affonso Uchôa (confirmada) e Grace Passô (a confirmar)
https://minastenisclube.com.br/cultura/centro-cultural-unimed-bh-minas/cinema/