Conhecido por Cine Holliúdy (2012) e O Shaolin do Sertão (2016), Halder Gomes se arrisca fora da comédia em Vermelho Monet. O diretor cearense, desta vez, realiza um filme primordialmente pictórico. Explora assim um de seus múltiplos talentos, as artes plásticas, pois a sua trama se desenrola no universo da pintura.
No filme, Johannes Van Almeida (Chico Diaz) é um pintor talentoso, mas sem reconhecimento. Ganha a vida com sua habilidade em produzir falsificações, obras que ele cria com base em características de algum pintor famoso. A marchand Antoinette Lefèvre (Maria Fernanda Cândido) se aproveita disso para vender seus produtos como se fossem obras-primas recentemente descobertas. Mas o último golpe dela não dá certo, e ela precisa com urgência de uma pintura nova e original de Johannes. Para incentivá-lo, ela consegue a inspiração que falta a ele: uma bela mulher ruiva que resgate o sentimento que ele e sua esposa, agora com paralisia cerebral, viveram na juventude. A nova musa é Florence Lizz (Samantha Müller), uma atriz brasileira que está insegura no papel de protagonista em um filme português.
Como uma pintura
A direção de fotografia, de Carina Sanginitto, imprime a tal característica pictórica mencionada acima. Há um cuidado com a paleta de cores, que retrata o vermelho especial que o protagonista tanto busca, em contraste com a acromatopsia dele, refletida em trechos que tendem ao preto e branco. Quase todas as cenas se assemelham a pinturas, em maior ou menor intensidade. Curiosamente, a cidade de Lisboa, com seus telhados vermelhos não ganha uma comparação com os cabelos ruivos da musa do pintor. Às vezes, a referência pictórica é escancarada, como nos efeitos que transformam a imagem da atriz em quadros.
Por sua vez, Halder Gomes também se esmera em aproximar seu filme de uma pintura. A inventiva apresentação de Johannes, por exemplo, tem essa finalidade, pois sua silhueta aparece pintando atrás da tela. Em seguida, quando ele fica descontente com seu trabalho, rasga o painel e suas feições surgem para o público. Sua frustração parece irremediável, pois busca reviver um sentimento passado – algo que nunca pode ser alcançado, mesmo que todos os elementos estejam presentes. E, no caso dele, o principal ingrediente está perdido. A presença física da esposa Adele (Gracinda Nave), sempre ao lado de Johannes, provoca incômodo, propositalmente, pois marca o quanto ela faz falta para ele.
Sem dramaturgia
Vermelho Monet possui uma força visual tremenda. Porém, os diálogos estragam tudo. Soam vulgares, mesmo na boca da sofisticada marchand. O pintor, por sua vez, se expressa com falas pomposas, como se extraídas de um compêndio de frases famosas. Por ironia, o próprio filme menciona esses problemas, indiretamente. A atriz Florence, em público, ostenta uma imagem rebuscada, mas quando abre a boca para falar, escancara a sua grosseria que destrói essa fachada. Com isso, o filme perde dramaturgia, os personagens não provocam empatia, o enredo não engaja.
E uma afirmação, usada em duas cenas, sentencia em analogia a condenação do filme: um quadro para ser obra de arte tem que ter história.
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Ficha técnica:
Vermelho Monet | 2022 | Brasil, Portugal | Direção: Halder Gomes | Roteiro: Halder Gomes | Elenco: Chico Diaz, Maria Fernanda Cândido, Samantha Müller, Gracinda Nave, Matamba Joaquim, Duarte Gomes.
Distribuição: Pandora Filmes.