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Vestígios do Dia (filme)
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Vestígios do Dia

Avaliação:
8/10

8/10

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Crítica | Ficha técnica

Os filmes de James Ivory possuem a fineza dos lordes britânicos. Em especial, as reconstituições de época localizados na Inglaterra, como “Uma Janela Para o Amor” (1985), “Retorno a Howards End” (1992), e este “Vestígios do Dia”.

A classe, ou cavalheirismo, é a principal preocupação do protagonista Sr. Stevens (Anthony Hopkins), apesar de não ser um nobre, apenas o mordomo de um deles, o Lorde Darlington (James Fox). Ao receber uma carta de Miss Kenton (Emma Thompson), uma ex-governanta da casa, o Sr. Stevens aceita o convite dela para se reencontrarem na cidade onde ela vive. Em paralelo, a estória acompanha a viagem até o reencontro, e o seu flashback do período em que os dois trabalharam juntos.

As lembranças mostram o Sr. Stevens como um mordomo obstinado em manter a mansão em condições perfeitas, servindo ao Lorde Darlington com dedicação integral, sem se intrometer nos negócios profissionais ou pessoais do patrão. O Sr. Stevens, na verdade, se esforça para conter suas emoções, porque as considera uma distração que pode atrapalhar seu trabalho. Por isso, não chora nem diante da morte do seu pai.

Porém, ao se fechar, ele não enxerga que está servindo a um homem que está se aliando aos nazistas (“too busy serving to listen to the speeches”, diz ele) e contribuindo para que aconteça a Segunda Guerra Mundial. E, pessoalmente, não permite o desabrochar do amor por Miss Kenton.

Adaptado da obra de Kazuo Ishiguro

Considerar que “Vestígios do Dia” é uma adaptação do livro do escritor Kazuo Ishiguro (vendedor do Nobel de Literatura em 2017) permite relacionar o personagem Sr. Stevens com a atitude do homem japonês frente ao trabalho. De fato, ele é influenciado pela tradição do samurai que defendia seu senhor acima de qualquer coisa, inclusive de sua própria vida. Nesse sentido, o nipônico se sacrifica pelo seu trabalho, tanto que perder o emprego significa uma vergonha. E isso até justifica se esconder em casa para que ninguém descubra que está desempregado.

Da mesma forma, o Sr. Stevens representa essa visão de mundo, que é herdada do pai que trabalha até morrer. E que não mudará, pois ele não abre seu coração nem no encontro derradeiro com Miss Kenton, depois de tantos anos.

Por outro lado, a direção de James Ivory é sóbria. O único momento em que movimenta a câmera de maneira ostensiva é na cena final, quando o plano sai da janela da mansão para um plano geral do alto. Assim, representa que o Sr. Stevens ficará, até o fim de sua vida, confinado em sua profissão de mordomo, agora servindo um novo patrão. A cena encerra um belíssimo retrato de um modo de vida, sutil como o objeto de seu assunto.


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