Viagem à Itália retrata com maturidade um casal prestes a se divorciar.
Os estadunidenses Katherine e Alex Joyce viajam para a Itália porque receberam uma casa como herança. O falecido era tio de Katherine, um soldado que estava na tropa intervencionista. Ele chegou após o fim da Segunda Grande Guerra e resolveu fixar residência na Europa.
Casados há oito anos, sem filhos, Katherine e Alex possuem uma boa situação financeira. E a vida movimentada acobertou o que agora eles descobrem ao viajaram sozinhos pela primeira vez, após tanto tempo. Ou seja, que eles pouco se conhecem e que o relacionamento entre eles é frio. Conforme o filme se desenrola, a ausência de afeto descamba em trocas de rusgas.
Locações
Como nos tempos do neorrealismo, Roberto Rossellini filma em locações. E, aqui, a cidade de Nápoles assume um papel essencial. Katherine, a personagem de Ingrid Bergman, visita a cidade. Então, diante dos esqueletos das catacumbas do cemitério Delle Fontanelle, se força a refletir sobre a vida. Logo após esse passeio, discute com o marido (George Sanders). E, este desperta na viagem seu adormecido interesse pelas mulheres. Como resultado, os dois resolvem se divorciar.
Na Pompeia destruída pelo vulcão, eles testemunham a escavação de um homem e uma mulher que morreram juntos. Novamente, Katherine se vê num momento existencial. Pensa sobre a brevidade da vida e conclui que o divórcio é mesmo a melhor solução.
No entanto, na cena final, o casal burguês se vê no meio do povo, numa procissão. Então, Katherine é carregada pela multidão, como que forçada a se juntar a essa fé. Em seguida, Alex vai ao seu resgate, e o casal se reconcilia.
Rossellini
A princípio, essa conclusão revela um Rossellini diferente. Durante todo o restante de Viagem à Itália, sua abordagem fria remete às suas obras do neorrealismo. Porém, o filme se encerra com essa reconciliação, com a ajuda involuntária da fé, que se justifica pelo catolicismo do diretor. De fato, é um final esperançoso, oposto ao de Alemanha Ano Zero (1948). Afinal, o sentimento já era outro, a Europa se recuperava da devastação da guerra com o auxílio do Plano Marshall. Como contraponto, no velho continente em reconstrução, o casal americano reacende seu amor.
Neste aspecto, Rossellini se afasta do neorrealismo italiano. Contudo, ele se mantém fiel àquele movimento no aspecto essencial de não usar o cinema como espetáculo. Afinal, Viagem à Itália, com suas situações e seus diálogos maduros, é uma experiência para adultos.
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Ficha técnica:
Viagem à Itália | Viaggio in Italia | 1954 | Itália, França | 85 min | Direção: Roberto Rossellini | Roteiro: Vitaliano Brancati, Roberto Rossellini, Antonio Pietrangeli | Elenco: Ingrid Bergman, George Sanders, Maria Mauban, Anna Proclemer, Paul Muller, Anthony La Penna, Natalia Ray, Jackie Frost.