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Vingança & Castigo (filme)
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Vingança e Castigo | Por Sérgio Alpendre

Avaliação:
6/10

6/10

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Crítica | Ficha técnica

Um homem chega num salão onde ninguém pode entrar armado. Uma moça chamada Cuffee (Danielle Deadwyler), que prefere ser vista e entendida como um rapaz, é a encarregada de impedir que desrespeitem essa regra. Nat Love (Jonathan Majors), o herói do filme, entra nesse salão à procura de Stagecoach Mary (Zazie Beets). Esta surge andando lentamente, mas a cada pé plantado no chão tem sua espingarda golpeada contra o piso de madeira, numa espécie de entrada triunfal (outras virão e uma, do vilão, já tinha surgido no prólogo). Mary sobe num palco e começa a cantar uma música moderna, num típico ruído de cinema contemporâneo. Depois desce e beija nosso herói, antes de esbofeteá-lo.

Quando criança, Nat Love testemunhou o assassinato de seus pais por Rufus Buck (Idris Elba). Alguns anos depois (o letreiro não nos diz quantos), Buck é resgatado da prisão por seu bando liderado pelo braço direito Cherokee Bill (Lakeith Stanfield) e por sua companheira Trudy Smith (Regina King). Nat Love, agora adulto, pode finalmente perseguir sua vingança, mas os membros de sua gangue, incluindo Stagecoch Mary e um xerife que entende que a lei precisa ser driblada (Delroy Lindo), não o deixarão lutar sozinho. Essa é a trama, em linhas gerais, de Vingança e Castigo (The Harder They Fall, 2021), dirigido por Jeymes Samuel.

Estiloso, mas afetado

O começo já entrega: estamos diante de um filme muito estiloso, que por vezes (infelizmente, muitas vezes) ultrapassa o limite do tolerável e se torna demasiadamente afetado, uma espécie de Django Livre (Django Unchained, Quentin Tarantino, 2012) com medo de ser chamado de “cringe”. O estilo vira firula, a similaridade com um western revisionista dá lugar à incômoda sensação de que o filme está desesperado para capturar jovens pela adrenalina, com os dois olhos nas pautas sociais contemporâneas, como se soubesse que jovens antenados perdoam uma má forma, mas não perdoam um engajamento frouxo.

Felizmente, a trama, apesar de não trazer nada de muito novo, é interessante o suficiente para nos deixar entretidos, e razoavelmente bem levada (tirando uma ou outra solução esquisita no miolo). E Samuel tem algum talento para a imitação, o que gera algumas sequências minimamente divertidas imitando Tarantino, obviamente, mas também Brian De Palma (uma cena particularmente boa em split screen dentro do trem), um pouco de Sergio Leone nos planos mais fechados e algo da blaxploitation dos anos 1970 na trilha sonora. Há ainda algumas boas piadas. Uma das melhores cenas é a do assalto a um banco todo asséptico, praticamente um castelinho rococó de brancos supremacistas.

Como o leitor percebeu pelos dois primeiros parágrafos, o filme tem também um elenco primoroso, o que ajuda a dar charme à sua narrativa. Embora Jonathan Majors não segure o tamanho do seu papel, como fica evidente no confronto com Idris Elba, que é muito mais ator, ou mesmo contra Lakeith Stanfield, um dos mais talentosos dos jovens atores contemporâneos.

Artimanha dos espertos

Do lado negativo ficaria mesmo a firula sem fim que vez ou outra domina a imagem, como se quisesse exalar frescor juvenil o tempo todo. Samuel pode aprender com o tempo que um bom cineasta cheio de frescor não se expõe tanto, para permitir que o filme se desenvolva sem exibicionismos de toda a espécie. O mais duro, no caso de Vingança e Castigo, é que após uma firula tola pode vir um belíssimo plano para nos deixar confusos. É a artimanha dos espertos, nos ludibriar com afetações e belas composições. Samuel demonstra que pode mais do que isso. Falta saber a hora de exercer maior contenção, no caso de uma trama envolvente, ou a exacerbação do estilo pelo estilo, o que pode gerar algo bem interessante também.

Muitos diriam que o filme é ainda pior por ser bem filmado. Eu diria que é bem e mal filmado ao mesmo tempo, e que esse desacerto é determinante tanto para seu sucesso quanto para seu fracasso. Depende do viés pelo qual olhamos para ele.

Texto escrito pelo crítico e professor de cinema Sérgio Alpendre, especialmente para o Leitura Fílmica.


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