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Voar é com os Pássaros (filme)
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Voar é com os Pássaros

Avaliação:
7/10

7/10

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Crítica | Ficha técnica

“Voar é com os Pássaros” e “M.A.S.H.” (M.A.S.H., 1970) marcam a fase “comédia sarcástica” de Robert Altman, diretor eclético que realizou filmes em variados gêneros.

O prólogo apresenta um professor ornitologista com aparência de maluco introduzindo a ambição do homem de voar. Ele, que será o narrador, diz duas frases essenciais para a leitura do filme. Primeiro, afirma que já não sobraram muitos sonhos para as pessoas. Depois, questiona se o que elas buscam é simplesmente voar ou o sentimento de liberdade que o voo proporciona.

Irreverência

A irreverência que Altman mostrou em “M.A.S.H.” aparece aqui já nos créditos. Neste trecho, o título do filme é apresentado duas vezes, acompanhando a repetição que a cantora solicita à banda para ensaiar a apresentação do hino nacional dos EUA em um ginásio de esportes. Tentativa em vão, porque fica evidente que a socialite não possui nenhuma aptidão para a música. Pode-se fazer um paralelo dessa situação com a busca de Brewster McCloud pelo dom de voar, estória que acompanharemos a partir daí no filme.

A ilusão desse sonho é representada também pela morte da socialite, que aparece caída no chão calçando sapatinhos vermelhos de lantejoula. É uma referência à bruxa do filme “O Mágico de Oz” (The Wizard of Oz, 1939), interpretada pela mesma atriz, Margaret Hamilton. Nesse sentido, o filme é um retrato da sua época, o começo dos anos 1970, quando a desilusão motivada pelos assassinatos de John F. Kennedy e Martin Luther King e a crueldade da guerra do Vietnã destruíram os sonhos hippies – e qualquer estrada de tijolos amarelos.

Asas mecânicas

Brewster McCloud é um jovem solitário que está inventando asas mecânicas para realizar seu sonho de voar como um pássaro. Quem o auxilia como um coach nessa empreitada é Louise, uma bela mulher vivida por Sally Kellerman. McCloud está tão focado em seu objetivo que nem dá bola para a garota apaixonada por ele (Jennifer Salt) que o visita periodicamente. O rapaz, porém, tem seu lado sinistro – ele assassina qualquer um que se coloque como um obstáculo para ele.

O filme compara alguns animais aos personagens do filme. Enquanto o narrador explica as características do avestruz, um policial gordo que persegue Mccloud surge na tela. Já para indicar a morosidade da polícia, Altman justapõe um plano dela com outro de uma tartaruga, recorrendo à montagem ideológica criada pelos russos nos primeiros anos do cinema.

Nova Hollywood

Então, pode-se entender “Voar é com os Pássaros” como uma metáfora do citado zeitgeist do início dos anos 1970. Dessa forma, McCloud seria um representante da geração que sonhou um novo estilo de vida, uma revolução cultural que, ao conquistar seu espaço, acabou se empolgando e se destruindo. Afinal, McCloud era um serial killer, e esses jovens rebeldes também recorreram à violência, nas revoltas estudantis. Então, perdeu o rumo, ao deixar de lado seus ideais, representados no filme pela personagem de Sally Kellerman, quando se deixou seduzir pelo prazer das drogas, personificado na figura de Suzanne (Shelley Duvall). Dessa forma, o filme se insere no movimento conhecido como Cinema da Nova Hollywood.

Enfim, o epílogo do filme evidencia a sua vocação para ser interpretado e não entendido como a aventura literal do rapaz assassino que tenta voar. Tudo é uma representação, e por isso, um mestre de cerimônia de circo apresenta os atores que trabalharam no filme. O espectador entende então que o filme pede que seus símbolos sejam desvendados. A semiótica dessa obra de Altman, no entanto, não lhe tira o humor, e garante boas risadas em cima dessas reflexões.


Voar é com os Pássaros (filme)
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