Ya No Estoy Aquí traça um retrato realista e atual sobre a violência nas comunidades pobres no México e a falta de oportunidades nos EUA.
Em seu segundo longa-metragem de ficção, o diretor Fernando Frias faz questão de enfatizar a falta de perspectivas tanto nas favelas de Monterrey, no México, como no bairro de Queens, em Nova York. Nesse sentido, ele alterna sequências que acontecem nos dois lugares, sempre acompanhando o protagonista Ulisses, de 17 anos. E as duas sequências acontecem com apenas seis meses de intervalo temporal.
De Monterrey a Queens
Inicialmente, Ulisses está em Monterrey, onde vive nas comunidades pobres, que possuem vielas estreitas com muros altos que parecem corredores de prisão. Então, com seu penteado original e atitude provocativa, ele circula pelo bairro com autoestima alta. Afinal, ele é um dos principais membros do grupo chamado Terkos, unidos pelo amor à música cumbia, também chamada de kolombia. Juntamente com seu visual, Ulisses também chama a atenção por ser um ótimo dançarino desse estilo.
Porém, esse seu microcosmo logo irá desabar. Quando uma gangue violenta invade o bairro e exige que os antigos líderes não interfiram em seus negócios ilegais, Ulisses passa a correr perigo. Por isso, sua família se muda de casa e ele foge para os Estados Unidos.
Contudo, sem saber falar inglês, Ulisses não se adapta à vida em Nova York. Apesar de ser acolhido por uma jovem chinesa de 16 anos, a dificuldade de se comunicarem acaba minando a possibilidade de uma amizade. Eventualmente, ele se sente como um animal exótico, devido ao seu visual. Por fim, ele será deportado, e terá a chance de recomeçar sua vida em Monterrey, onde seu bairro já está, definitivamente, dominado pela gangue que o expulsou.
Análise
Apesar de Ya No Estoy Aquí apresentar algumas sequências de dança um pouco longas demais, o filme encanta pelo rebuscado estilo visual do diretor Fernando Frias. Nesse sentido, ele investe bastante em movimentos de câmera que ora se aproximam, ora se afastam do objeto principal, dependendo da intenção narrativa.
Adicionalmente, os enquadramentos apontam para significados intrínsecos à estória. Por exemplo, Ulisses se sente carente após ser rechaçado pela mãe ao telefone, e tratado como um animal num zoológico numa festa. Então, ele recorre a uma prostituta mais velha que ele conheceu dias antes. E, na cena em que ela o acolhe, vemos os dois através de uma janela de um diner. Tal qual Steven Spielberg, ele utiliza a forma redonda dessa janela para representar a mãe, como apontou a crítica de cinema Clélia Cohen em “Steven Spielberg” (Coleção Master of Cinema, p. 73).
Por fim, o filme destaca o amadurecimento do seu protagonista. Na verdade, um amadurecimento acelerado pela situação extrema pela qual passa em menos de um ano. Por fim, ao retornar para sua comunidade, ele já deixou seu visual exótico para trás, e observa à distância os antigos companheiros. Afinal, ele não é mais um terko. Ele é Ulisses.
Ya No Estoy Aquí foi escolhido pelo México como seu representante na disputa do Oscar de melhor filme internacional.
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Ficha técnica:
Ya No Estoy Aquí (Ya No Estoy Aquí) 2019. México/EUA. 112 min. Direção e roteiro: Fernando Frias. Elenco: Daniel Garcia, Xueming Angelina Chen, Sophia Metcalf, Coral Puente, Jonathan Espinoza, Adrian Arbeales, Brandon Stanton, Fanny Tovar, Tania Alvarado, Yesica Silva.
Distribuição: Netflix.