O diretor Marco Tulio Giordana ganhou prestígio com O Melhor da Juventude (La Meglio Gioventù, 2003), um drama épico com mais de seis horas de duração. Mas, ele sempre gostou de levar para as telas casos reais. Nesse sentido, fez Piazza Fontana: Uma Conspiração Italiana (Romanzo di una strage, 2012), Os Cem Passos (I Cento Passi, 2000) e Pasolini, Um Crime Italiano (Pasolini, un Delitto Italiano, 1995). Yara segue nessa linha, porém, concentra-se friamente nas investigações de cinco anos de um crime cometido em 2011.
A menina Yara, de 13 anos, desaparece no retorno da escola de dança, na região da Grande Bérgamo. Três meses depois, um homem encontra o seu corpo num terreno baldio, já em estado de decomposição (cena do flash forward que abre o filme). A trama acompanha a exaustiva investigação movida pela inspetora Letizia Ruggeri (Isabella Ragonese), que se fundamenta na análise do DNA encontrado nas roupas da vítima. Entre os muitos obstáculos que Ruggeri enfrenta, está o fato de o DNA pertencer a uma pessoa que nasceu de um relacionamento extraconjugal.
Como uma série investigativa
O filme, baseado em eventos reais, se assemelha a uma série procedural de investigação policial, como CSI e Law and Order. Afinal, o seu desenvolvimento acontece em torno de tecnicidades, principalmente a busca pelo suspeito através do DNA. E, no julgamento, se detém em detalhes sobre transmissão de dados, para provar que o réu realizou pesquisas incriminadoras em seu computador. Nesses pontos, Yara é um prato cheio para quem aprecia esse tipo de programa televisivo, incluindo séries e filmes documentais sobre crimes.
No entanto, o longa desagrada quem espera um filme policial com alta carga dramática. A estrutura do filme, segmentada em perspectivas de diferentes personagens, afasta esse potencial emotivo. Primeiro, acompanhamos a vítima, que vai até a sua escola de dança para emprestar o aparelho de som de seu pai, no início da noite. Na volta, sozinha, vemos uma van branca abordando-a. Então, o ponto de vista passa para os seus pais, que temem pelo pior. Por fim, acompanharemos também alguns momentos da vida do suspeito, em sua casa, ou na visita de sua esposa quando ele já está na prisão.
Enquanto isso, a única personagem que se mantém quase o tempo todo na tela é a investigadora Ruggeri. Contudo, mesmo em relação a ela, o filme se concentra apenas no seu trabalho. A máxima abertura de sua vida pessoal revela que ela tem uma filha, e que não tem um marido, pelo menos, agora. Então, fora sua dedicação ao caso, não temos acesso a sua personalidade.
Um relato frio
Aliás, todos os personagens possuem essa abordagem superficial. E, sem aprofundamento, não nos envolvemos emocionalmente com nenhum deles. Além disso, esperamos pela elucidação dos motivos que levaram esse homem, condenado à prisão perpétua, a cometer esse crime. Quem era, de fato, esse assassino? Um pedófilo? Ele fez mais vítimas sem despertar suspeitas? O filme não esclarece nada disso.
Sendo um cineasta experiente, Marco Tulio Giordana deve ter a intenção proposital de se aproximar aqui de um filme semidocumental. Mas, dessa forma, o relato ficou frio demais.
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Ficha técnica:
Yara | Yara | 2021 | 96 min | Itália | Direção: Marco Tulio Giordana | Roteiro: Graziano Diana, Giacomo Martelli | Elenco: Isabella Ragonese, Alessio Boni, Thomas Trabacchi, Sandra Toffolatti, Roberto Zibetti, Mario Pirrello, Miro Landoni, Andrea Bruschi, Chiara Bono.