Como fez em outros seis longas, o diretor Antonio Olavo mantém seu objetivo de valorização da memória negra em 1798 – Revolta dos Búzios. Seu novo documentário dá visibilidade a um acontecimento histórico pouco conhecido no Brasil. Sob a influência iluminista da Revolução Francesa (1789), aconteceu um levante que pretendia derrubar o governo colonial, proclamar a independência e implantar uma República democrática. A busca pela “igualdade entre os homens pretos, pardos e brancos”, porém, fracassou diante da repressão do governo estadual. Como triste saldo, quatro homens negros – Luiz Gonzaga, Lucas Dantas, João de Deus e Manuel Faustino – foram enforcados e esquartejados em 8 de novembro de 1799 na Praça da Piedade, em Salvador.
O filme vai além do relato básico, e está rico em recursos variados. Começa, por exemplo, dialogando com o presente, com um rap que aponta a pouca divulgação desta história. Recorre, depois, a diversos elementos audiovisuais, como a narração em off, o depoimento dramatizado, ilustrações, e outros, inclusive abraçando o experimental, como na montagem com os closes extremos de bocas em falas de protesto. Dessa forma, ainda que tenha um viés didático, contando o passo a passo dos eventos, 1798 – Revolta dos Búzios nunca se torna repetitivo.
Os trechos filmados possuem uma textura espessa, fruto da fotografia escura, mesmo nas cenas diurnas. Antonio Olavo não chega a encenar as ações da trama, que se baseia nos “Autos da Devassa”, o manuscrito da investigação policial sobre a conspiração republicana. Assim, entram no filme, ilustrando a narração, algumas cenas indiretamente relacionadas ao tema, e outras com pouca conexão.
O conhecimento à tona
Contudo, o outro lado de enriquecer a narrativa com diversos recursos é o risco de estes distraírem o espectador. E isso, de fato, acontece em 1798 – Revolta dos Búzios, que possui um detalhamento intenso, com vários personagens envolvidos na ação. Na segunda parte, os nomes começam a se embaralhar, e se torna difícil seguir a história.
Mas, se alguns detalhes talvez se percam, a visão geral permanece. Acima de tudo, fica o conhecimento dessa rebelião que, como as outras tentativas de quebrar o colonialismo, precisa ser louvada, pois foram sementes para o fim dos escravos e para a independência do Brasil. Daí a importância do projeto da carreira do diretor Antonio Olavo.
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Ficha técnica:
1798 – Revolta dos Búzios | 2019 | Brasil | 73 min | Direção: Antonio Olavo | Roteiro: Antonio Olavo.
Distribuição: Abará Filmes.
Assista ao trailer aqui.