O fiapo de trama de 97 Minutos não é suficiente para cobrir um longa-metragem. O enredo, sobre um sequestro de um avião por terroristas, possui de interessante o fato de um deles ser um agente infiltrado da NSA (Agência de Segurança Americana). Há uma surpresa que só é revelada na parte final, e não entregaremos esse spoiler aqui porque, afinal, a única esperança de o filme agradar alguém está nessa informação.
97 minutos começa com um plano que dá certa esperança de vermos uma obra interessante. Nele, a câmera faz um movimento horizontal pela lateral exterior de um avião em pleno voo. Começa focando a cabine do piloto e continua pelas janelas dos passageiros até a última. Parece até que o diretor islandês Timo Vuorensola, responsável pelo fraco Olhos Famintos: Renascimento (Jeppers Creepers: Reborn, 2022), presta homenagem à obra-prima Janela Indiscreta (Rear Window, 1954), de Alfred Hitchcock. Mas a impressão se mostra equivocada. Aqui, não espiaremos as particularidades curiosas de alguns passageiros – a maioria deles, aliás, participa apenas como figurantes. O objetivo desse plano se resume à fisicalidade, pois quando chega ao final do avião, logo a ação passa para dentro do avião, com o início do sequestro.
Terroristas desunidos
A história não revela quem são esses terroristas, mas chama a atenção a desunião do grupo. Parecem mais agir por conta individual do que em nome de alguma causa, sempre descoordenadamente. O mais violento deles mata as comissárias de bordo e o piloto, deixando o avião em perigo. Um deles assume essa função, mesmo sem saber pilotar. Outro é assassinado pelo agente infiltrado, e demora para alguém notar sua falta. Mesmo quando isso acontece, não dão importância. Apesar dessa trapalhada toda, eles têm uma missão que pode levar à Terceira Guerra Mundial, pois querem detonar uma bomba nuclear jogando o avião em território americano. Como se pode notar por essa descrição de acontecimentos, nada faz sentido nessa trama.
Fora do avião, mais problemas para esse roteiro. Na sede da NSA, o chefão Hawkins (Alec Baldwin) age como um psicopata paranoico. Com medo de que aconteça um novo 11 de setembro, ele logo decide enviar caças para abater esse avião. Seus subordinados contestam essa opção, mas ele argumenta que prefere matar dezenas do que milhares. Só desiste quando descobre sobre a arma nuclear a bordo. Porém, nesse meio tempo, um outro avião com passageiros entra na rota e um dos caças o explode. Estranhamente, ninguém lamenta a perda das pessoas que estavam nesse avião.
Personagens
Os personagens principais, da mesma forma, são lastimáveis. Alex (Jonathan Rhys Meyers), que se declara um agente infiltrado, parece um alucinado. Seus flashbacks (muito mal filmados, por sinal) mostram seu trauma pela perda do filho (numa coincidência improvável, ele descobre o culpado por isso). Apesar de seu objetivo único, ele acaba posando de bonzinho nos minutos derradeiros do filme. Por outro lado, o personagem Hawkins tinha tudo para ser instigante, pois foi e continua sendo um militar odiável, que mata civis sem ficar com consciência pesada. Mas o enredo não aproveita isso, e até ignora sua falta de escrúpulos.
Resta, assim, recorrer a muitas cenas de ação para compensar esse roteiro fraco que faz par com a direção frouxa de Vuorensola. O tempo passa rápido, mais do que duram os 97 minutos de combustível que o avião, que viaja do aeroporto de Heathrow (Londres) para o JFK (Nova York). Mas sempre incomodando o espectador com sua sucessão de incongruências.
___________________________________________
Ficha técnica:
97 Minutos | 97 Minutes | 2023 | 93 min | Reino Unido, EUA, Canadá | Direção: Timo Vuorensola | Roteiro: Pavan Grover | Elenco: Jonathan Rhys Meyers, Alec Baldwin, MyAnna Buring, Jo Martin, Michael Sirow, Pavan Grover, Anjul Nigam.
Distribuição: Cinecolor.
Trailer aqui.