Em A Bela da Tarde, Luis Buñuel relata o caso de Séverine, uma mulher que é frígida com o marido, mas que se prostitui nas tardes da semana.
Apesar de amar o marido, o médico Pierre, Séverine não consegue fazer sexo com ele. E se sente frustrada com isso. Através de um amigo de Pierre, ela fica sabendo o endereço de uma casa de prostituição. A princípio, ela sente receio, mas experimenta se prostituir. Logo, isso se transforma em sua rotina vespertina. Como esperado, a atividade arriscada resulta em tragédia. Primeiro, porque um cliente perigoso fica obcecado por Séverine. Além disso, aquele amigo do marido a encontra no bordel.
Um pouco de surrealismo
Luis Buñuel flerta novamente com o surrealismo. Mas sem radicalizar como em Um Cão Andaluz (1929) ou outros filmes de sua carreira. A Bela da Tarde traz vários trechos de fantasia, todos frutos da imaginação de Séverine. Invariavelmente, eles refletem o que ela está sentindo ou pensando.
Dessa forma, descobrimos, através das metáforas desses devaneios, o desejo masoquista de Séverine. E essa tara o marido comportado não é capaz de satisfazer, mas a prostituição pode. Por isso, na conclusão ela parece satisfeita por seu destino sofrido, fadada a servir o marido agora inválido. Além disso, ela já não se sente mais culpada pela sua frigidez, pois seu marido agora está impotente.
Quando à origem da frigidez de Séverine, o filme a expõe quase subliminarmente. Afinal, em uma cena muito breve, vemos Séverine ainda criança com um homem adulto, com indício de a molestar sexualmente. Ou seja, daí teria surgido o trauma que viria a afetar sua sexualidade. Nesse sentido, Séverine se aproxima da Carol de Repulsa ao Sexo (1965), de Roman Polanski.
Por fim, vale atentar que A Bela da Tarde surpreende pelo seu tom neutro. Apesar da sexualidade como tema principal, o filme não é sensual. Da mesma forma, o trauma psicológico e mesmo a perversão não o tornam obscuro. Assim, o filme parece incorporar a frieza de sua personagem principal.
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Ficha técnica:
A Bela da Tarde (Belle de Jour) 1967. França/Itália. 100 min. Direção: Luis Buñuel. Roteiro: Luis Buñuel, Jean-Claude Carrière. Elenco: Catherine Deneuve, Jean Sorel, Michel Piccoli, Geneviève Page, Pierre Clémenti, Françoise Fabian, Macha Méril.
