A Casa do Fim dos Tempos (La Casa del Fin de los Tiempos) é o surpreendente filme de estreia do diretor venezuelano Alejandro Hidalgo. A obra trabalha nas chaves do terror e da fantasia, e funciona igualmente bem em ambas.
O caminho do terror em A Casa do Fim dos Tempos não parece tão diferente de outros que o público já percorreu em outros filmes do gênero. No prólogo, vemos uma mulher enfrentando o terror no porão de sua casa. Dentro de um clima muito sinistro, ela encontra o marido morto a facadas. Em seguida, vê o filho de uns 12 anos ser sugado pela escuridão. Então, as manchetes dos jornais e os noticiários nos informam que essa mulher Dulce é condenada à prisão pelo assassinato do marido e pelo desaparecimento do filho. Uma injustiça, pelo que testemunhamos.
A história recomeça 30 anos depois quando Dulce retorna à casa onde aconteceram os crimes. Não completamente livre, pois ela está em prisão domiciliar, com dois policiais de vigia. Aliás, vale o elogio de que é uma solução bem original para confinar a protagonista nessa casa aparentemente mal-assombrada. Através de flashbacks, descobrimos os estranhos acontecimentos que precederam a tragédia sob a sua perspectiva. É a deixa para o diretor Alejandro Hidalgo demonstrar sua habilidade em construir atmosferas sombrias e inserir jump scares assustadores.
Do terror para o fantástico
Até certo ponto, A Casa do Fim dos Tempos segue como um horripilante filme de terror sobrenatural. O padre que vem prestar apoio a Dulce é outro elemento típico do gênero, assim como a médium que constata uma presença fantasmagórica na casa. Porém, há peças que não se encaixam, como a existência de um outro filho um pouco mais novo de Dulce. Acontece que esse roteiro, escrito por Alessandro Fidalgo com assessoria de Frank Baiz Quevedo, guarda revelações surpreendentes dignas dos melhores trabalhos de M. Night Shyamalan. Não à toa, o filme Fim dos Tempos (The Happening, 2008) de Shyamalan ganhou o título de “El fin de los tempos” na Venezuela. É quando entra a chave do fantástico com uma arrebatadora idéia que tira o chão do espectador.
O melhor é assistir ao filme sem conhecer essa surpresa, até porque se lido talvez não tenha semelhante impacto. Então, se você ainda não viu o longa, deixe para ler o restante dessa crítica após assistí-lo.
Spoilers adiante
A parte final de A Casa do Fim dos Tempos puxa o tapete do espectador que até então apreciava um filme de casa mal-assombrada acima da média. Ledo engano, pois a surpresa da trama revela que não é nada disso. Não há fantasma algum, mas as versões mais velhas de Dulce (no evento de 30 anos atrás) e de seu filho Leopoldo (na trama do presente). Elas retornam do futuro através do portal do tempo dessa casa para se ajudarem. Isso aqui descrito pode soar um tanto ingênuo, mas o roteiro e a direção manipulam com raro talento essa virada na história.
Para isso, inclui até elementos melodramáticos que são essenciais para a trama. Nesse sentido, o marido descobre que o filho mais velho Leopoldo não é seu, mas de outro homem com que Dulce se relacionava. Ademais, temos a tragédia da morte acidental do filho mais novo provocado por Leopoldo, que é a gota d’água para que a relação já estremecida do casal descambe para a violência. Portanto, para evitar que o marido mate Leopoldo e Dulce, a versão mais velha desta retorna do futuro para salvá-los.
Quanto a Leopoldo, ele ainda sofre de um grave problema cardíaco. Por isso, desaparece para retornar ainda menino desse portal numa época em que a medicina já pode curá-lo. Apesar de essa subtrama de Leopoldo não ser tão forte quanto a de Dulce, ela permite encerrar o filme com um toque poético, quando Leopoldo reconhece no padre o seu melhor amigo de infância.
O venezuelano A Casa do Fim dos Tempos é um filme fenomenal de terror e de fantasia que merece ser descoberto.
___________________________________________
Ficha técnica:
A Casa do Fim dos Tempos | La Casa del Fin de los Tiempos | 2013 | 101 min | Venezuela | Direção: Alejandro Hidalgo | Roteiro: Alejandro Hidalgo, Frank Baiz Quevedo | Elenco: Ruddy Rodríguez, Guillermo Garcia, Rosmel Bustamante, Gonzalo Cubero, Héctor Mercado, Nucelar Morales, Efraín Romero.
