Em A Chorona, o diretor Jayro Bustamante denuncia a impunidade que absolveu os responsáveis pelo genocídio na Guatemala nos anos 1980, durante a guerra civil. Através desse relato fantástico, Bustamante dá voz às principais vítimas, os índios maias.
Os juízes de primeira instância condenam o general Ernesto Monteverde por genocídio. No entanto, a Suprema Corte anula a decisão, e ele retorna para casa, sob os protestos da população. Os empregados domésticos partem, com exceção da leal governanta Valeriana. Enquanto a manifestação continua intensa em frente à residência, lá dentro permanecem o general, a governanta, e o guarda-costas. E, bem como o restante da família: sua esposa Carmen, sua filha Natalia e a neta Sara.
Alma
Então, chega à casa Alma, a única candidata que aparece para trabalhar na casa do general. Enquanto a adolescente Sara se afeiçoa dela, Carmen começa a ter pesadelos, e a dúvida quanto à inocência do pai cresce em Natalia. Então, quando Ernesto parece agir de forma crescentemente estranha, o sobrenatural se encarrega de fazer a justiça negada pelos homens.
Apesar de A Chorona se inserir no cinema fantástico, os momentos assustadores no filme são reais. De fato, resultam da crueldade dos militares que atacaram com violência os índios sob o pretexto de serem guerrilheiros.
Primeiro, ao mostrar o depoimento de uma senhora idosa maia relatando a ação violenta do exército contra seu povoado. Nessa cena, o diretor Bustamante enfatiza o testemunho ao manter um plano único. Este parte do close-up e se distancia lentamente até mostrar a sala cheia do tribunal.
Posteriormente, vemos recorrentes pesadelos de Carmen, a esposa do general. Conforme posteriormente se esclarece, ela se vê no lugar de Alma, quando Ernesto e sua tropa assassinaram seus dois filhos pequenos e ela própria. Essas cenas são essenciais para justificar o gesto desesperado de Carmen, que sela o destino do genocida, na conclusão do filme.
O próprio Ernesto sofre alucinações, que o levam a agir como louco. Esses trechos sempre contam com o elemento água, referência ao afogamento dos filhos de Alma. Além disso, a água indica, no seu desfecho, que Alma, ou outras almas vingativas, continuarão a perseguir os demais algozes.
Consciência
A Chorona se torna um filme maior por permitir uma interpretação que não depende da crença no sobrenatural. Afinal, podemos entender a personagem Alma como representação da consciência. Primeiramente, ela conquista a adolescente, que já percebeu, pelas redes sociais, as críticas contra o avô. Depois, reafirma o questionamento da filha, que até perdeu o marido por causa dos atos do pai no passado recente. Ademais, atormenta o próprio general, que se comporta de forma enlouquecida, e coloca em risco a segurança da família.
Por fim, a consciência leva a esposa Carmen a agir como a justiceira do povo maia. O seu motivo imediato é a proteção da neta. Mas, também, um profundo ressentimento por todo o mal que o marido provocou, aos maias e a ela própria.
Assim, como cinema fantástico, terror, ou um clamor por justiça à corte internacional, A Chorona possui uma inegável força.
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Ficha técnica:
A Chorona | La Llorona | 2019 | Guatemala, França | 97 min | Direção: Jayro Bustamante | Roteiro: Jayro Bustamante, Lisandro Sanchez | Elenco: María Mercedes Coroy, Sabrina De La Hoz, Margarita Kenéfic, Julio Diaz, Maria Telón, Juan Pablo Olyslager, Ayla-Elea Hurtado.
Distribuição: Elite Filmes
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