A Cidade dos Desiludidos (Two Weeks in Another Town) leva Vincente Minnelli de volta ao melodrama dos bastidores do cinema, abordado antes em Assim Estava Escrito (The Bad and the Beautiful, 1952).
Novamente, conta com Kirk Douglas no papel principal. Nesta adaptação do romance de Irwin Shaw, ele vive Jack Andrus, um ator afastado por problemas psicológicos. Após seis anos se tratando em uma instituição, ele recebe o convite de um antigo colega, o diretor Maurice Kruger (Edward G. Robinson), para filmar uma participação em seu novo filme, que está sendo rodado na Cinecittà em Roma.
O enredo coloca como pano de fundo da história os problemas que surgem durante as filmagens. O produtor exige de Kruger que ele finalize as captações em duas semanas, sem incorrer em nenhum gasto adicional. Então, para não ter que dispensar Jack sem nem mesmo usá-lo, delega-lhe a função de diretor das dublagens. Enquanto isso, o astro do filme, o jovem irritadiço Davie Drew (George Hamilton), começa a dar chiliques – situação que piora quando Jack se envolve com sua namorada Veronica (Daliah Lavi).
Mulheres dominantes
Questões pessoais e profissionais entram em conflito. No meio desse turbilhão, Minnelli enfatiza o poder que as mulheres têm sobre os homens.
Kruger é atormentado pela sua esposa Clara (Claire Trevor), mas, ao mesmo tempo, não resiste a nenhuma tentação. Neste filme, ele tem um caso com uma das atrizes, como sempre acontece. E Clara não aguenta mais essa costumeira infidelidade. O diretor parece impaciente com ela, porém, na parte final, fica evidente que ela o domina. No trabalho, sua assistente Janet (Joanna Roos) cumpre esse mesmo papel, agindo como um cão de guarda para protegê-lo (inclusive contra Jack).
A jovem Veronica, por sinal, demonstra ser a mais sensata do trio amoroso no qual se vê como pivô. Esbofeteada por David ao término de uma sessão privada da equipe de filmagem (eles assistem a Assim Estava Escrito, do próprio Minnelli e com o próprio Kirk Douglas), ela vira esse jogo. Sem precisar ser manipuladora, seus atos enervam David e acalmam Jack, pela influência natural que exerce sobre os dois.
Para o azar de Jack, a sua ex-esposa Carlotta (Cyd Charisse), que causou sua crise emocional no passado, está em Roma. E ela o atormenta o tempo todo, tentando seduzi-lo novamente. A tese do poder que as mulheres possuem sobre os homens fica provada com os impactos em Jack. Carlotta o tira do sério, enquanto Veronica o tranquiliza. Cabe aqui destacar que Minnelli retoma o capricho visual dos seus musicais na cena, belissimamente filmada, em que Jack e Veronica se beijam e depois caminham por uma rua de paralelepípedos em Roma à noite. O requinte dessa imagem condiz com a sensação de prazerosa calmaria que sente o protagonista naquele momento.
A descida
O clímax do filme também demanda o talento do diretor de musicais Minnelli. Quando Jack, com Carlotta no carro, dirige bêbado por uma estrada cheia de curvas, o cineasta não filma como uma cena de ação, com a câmera de longe. A visão é de dentro do veículo, com a câmera girando e um hábil uso de imagens projetadas ao fundo, resultando no efeito da descida desenfreada do carro, bem como de uma dança delirante. É o momento crucial de A Cidade dos Desiludidos. Ao repetir a atitude que o levou à internação, ele descobre que é capaz de dirigir bêbado, em alta velocidade e em curvas. Portanto, agora tem certeza de que quando ele bateu num muro há seis anos, ele tentou se suicidar. Para o espectador, a certeza desse desfecho é que se trata de mais um grande melodrama amargo de Vincente Minnelli.
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Ficha técnica:
A Cidade dos Desiludidos | Two Weeks in Another Town | 1962 | 107 min | EUA | Direção: Vincente Minnelli | Roteiro: Charles Schnee | Elenco: Kirk Douglas, Edward G. Robinson, Cyd Charisse, George Hamilton, Daliah Lavi, Claire Trevor, James Gregory, Rosanna Schiaffino, Joanna Roos.
