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A Filha Perdida (filme)
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A Filha Perdida | Por Sérgio Alpendre

Avaliação:
5/10

5/10

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Crítica | Ficha técnica

É frequente o surgimento de alguma miragem para os lados da Netflix. Naquele deserto de grandes filmes, vez ou outra aparece algum que, dizem, pode matar nossa sede. Até entendo que algumas pessoas tenham se empolgado com Imperdoável (The Unforgivable), o drama de Nora Fingscheidt com Sandra Bullock de protagonista. O filme entrega pouco, mas é até bem redondinho, sem grandes arroubos visuais, mas com um desenvolvimento narrativo razoável. Para muitos, isso basta. O nível do circuito comercial brasileiro nos últimos anos (vem de bem antes da pandemia, certamente), nos habituou a uma pobreza estética que parece irreversível.

O que acontece com A Filha Perdida me parece mais incompreensível. Uma história pífia, baseada num livro de Elena Ferrante, recebe um tratamento bem acadêmico de Maggie Gyllenhaal, atriz muito talentosa, em sua estreia na direção de longas. A forma frágil, muito mais do que a história pífia (que, afinal, tanto na literatura como no teatro ou no cinema, pode render obras excelentes), prejudica bastante o trabalho de outra atriz muito talentosa, Olivia Colman, já cotada, mesmo assim, para o Oscar de melhor atriz. Seja como for, o filme se tornou a nova sensação da Netflix no momento em que a sensação anterior, Não Olhe Para Cima (Don’t Look Up), começa a se tornar óbvia demais para quem acompanha de perto as novidades do streaming.

A trama

Olivia Colman interpreta uma professora universitária de 48 anos que goza suas férias sozinha na Grécia. Ao observar uma família napolitana que disputa a mesma faixa de areia que ela, começa a lembrar de suas filhas e a sentir uma tristeza profunda. O que terá ela feito? Alguma delas morreu por sua culpa? Brigou feio com a tal perdida do título e agora não sabe o que fazer? A mais velha foi raptada ou sumiu e nunca mais foi encontrada? 

Bem, enquanto pensamos na possível explicação, o filme vai acumulando truques velhos ou reciclados do bem filmar exótico: todos falam inglês muito bem, pinhas caem das árvores ferindo o corpo da personagem, bichos e gosmas saem da boca de uma boneca roubada, os homens da família napolitana parecem (e pelo que comentam, devem mesmo ser) mafiosos, flashbacks povoam a mente da mulher solitária; homens se aproximam dela com interesse, mas ela parece não suportar ter sua solidão ameaçada – em uma das boas cenas do filme, é possível entendermos como uma mulher sozinha se sente quando assediada por um homem. Quando a explicação da tristeza vem, sentimos que tudo foi uma grande perda de tempo, a não ser para loucos como eu, que gostam de ver também filmes ruins.

Bem filmar x filmar bem

Escrevi “bem filmar”? Sim, mas de acordo com o novo academicismo, que para mim não tem nada a ver com filmar bem: câmera trêmula, mais interessada em captar sensações do que em observar algo com atenção; ruídos sonoros que remetem a um onirismo de almanaque, o que pode até funcionar desde que todo o resto ajude; olhares ameaçadores sem que se entenda por quê, provavelmente por tudo estar na mente da protagonista; som frequentemente dissociado da imagem, o que é um truque velho para filmes em que tudo está na mente da protagonista.

Entende-se que Gyllenhaal tenha optado por esse novo academicismo em seu longa de estreia; convém ir com calma num território cada vez mais avesso a invenções formais que não estejam dentro de algum catálogo pré-definido, e estrear com o poderio da Netflix é sempre uma chance de ouro para qualquer cineasta com pouca experiência. O que não dá para entender é essa enxurrada de elogios de boa parte da crítica e da cinefilia para um trabalho tão limitado.

Texto escrito pelo crítico e professor de cinema Sérgio Alpendre, especialmente para o Leitura Fílmica.


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