No filme A Esposa, o diretor Björn Runge valoriza a excelente atuação de Glenn Close, indicada para o Oscar deste ano.
A Esposa é a adaptação para o cinema do livro escrito por Meg Wolitzer. Conta a estória fictícia de uma mulher, Joan Castleman (Close) que decide interromper sua submissão ao marido Joe (Jonathan Pryce), quando ele ganha o Nobel de literatura injustamente. Isso porque ela é que era a verdadeira autora dos livros dele. Aliás, esse enredo se parece muito com a história verdadeira de Sidonie Gabrielle Colette, cuja cinebiografia estreou recentemente nas telas, contando com Keira Knightley no papel principal.
A trama
A princípio, tudo parece harmonioso na vida de Joan e Joe, quando acompanhamos o casal em Connecticut, 1992, na noite em que eles recebem um telefonema da Suécia anunciando que o escritor americano ganhou o prêmio Nobel. Em seguida, na festa com os amigos, Joe faz um bonito discurso de agradecimento.
Em flashback, acompanhamos paralelamente como o casal se conheceu. Joe era casado e professor de literatura e Joan sua aluna, e ele acabou largando sua família para ficar com ela. Aos poucos, percebemos os ruídos da relação. Joan tinha mais talento na escrita que Joe, e este a obrigava a escrever livros em seu nome, além de ser constantemente infiel. Em determinada sequência do passado, desconfiamos que o motivo de ele se casar com Joan foi para poder usufruir do seu talento, e não por amor.
No presente, Joan começa a abandonar sua atitude submissa principalmente a partir dos comentários de Nathanial (Christian Slater), um jornalista encarregado de escrever a biografia de Joe. O incômodo de Joan já estava evidente na festa de comemoração em casa pelo prêmio Nobel, mas é Nathanial que age como o “grilo falante” que a impulsiona à ação.
A direção
Assim, o filme conduz o espectador a compartilhar o desconforto de Joan, mas sem sentir pena ou tristeza por ela. O fato de ela ter engolido essa situação durante toda a vida é destacado no filme nas cenas análogas do casal comemorando em 1960 a publicação do primeiro livro de Joe e depois em 1992 celebrando da mesma forma, pulando na cama e repetindo a mesma melodia, ao ganhar o Nobel.
E o diretor sueco Björn Runge consegue extrair o melhor de Glenn Close na cena em que ela ouve o discurso do marido no jantar após a entrega dos prêmios Nobel. A reação da personagem Joan ao perceber que Joe insistiu em agradecer a ela mesmo depois de suplicar para que ele não o fizesse é desconcertante, porque ela parece em choque, nem com raiva nem triste, mas incrédula por ele ser tão cínico. É o momento de virada do personagem, magistralmente interpretado por Close e captado por Runge.
Cena final
Na parte final do filme A Esposa, o talento do diretor se sobressai. Visualmente, ele evidencia o novo estado de Joan, agora protagonista de sua vida. Sentada dentro de um avião, a câmera é colocada à sua altura. A aeromoça, que no início do filme vimos por inteiro, agora conversa com Joan sem que o plano permita que seu rosto entre no quadro. Nathanael precisa se abaixar para falar com Joan e para poder entrar no quadro. Dessa forma, Joan assume o centro da situação, da sua própria vida, ainda que tardiamente. Figurativamente, ela abre seu caderno em uma página em branco e olha para a câmera, pronta para começar a escrever seu futuro – uma analogia óbvia, mas funcional.
O filme A Esposa possui uma brilhante atuação, ou melhor, duas brilhantes atuações, pois Jonathan Pryce também está magnífico. Além disso, uma direção que é eficiente e ainda com lampejos de genialidade. Por fim, o filme ainda merece louvor por resgatar o livro escrito em 2003, trazendo-o à tona oportunamente em tempos de empoderamento feminino.
Ficha técnica:
A Esposa (The Wife, 2017) Reino Unido/Suécia/EUA. 100 min. Dir: Björn Runge. Rot: Jane Anderson. Elenco: Glenn Close, Jonathan Pryce, Christian Slater, Max Irons, Elizabeth McGovern, Harry Lloyd, Annie Starke, Morgane Polanski, Alix Wilton Regan, Karin Franz Körlof, Michael Benz.