O estilo particular de comédia do casal Fiona Gordon e Dominique Abel, conhecido como Abel e Gordon, lembra o cinema de Wes Anderson e Aki Kaurismaki. Principalmente porque seu novo filme, A Estrela Cadente (L’étoile filante), chega às salas agora num momento em que Asteroid City e Folhas de Outono, respectivamente desses diretores, ainda estão frescos na memória. O cenário principal, o bar chamado “Estrela Cadente” traz o vermelho, o verde e o amarelo saturados, como nos filmes do finlandês. Além do cenário, as situações também são artificiais, como costuma acontecer no mundo do cineasta estadunidense citado. O estranhamento, enfim, impera na obra desses diretores.
Abel e Gordon, além de dirigirem e escreverem os roteiros dos seus filmes, também aparecem como atores. Desta vez, Abel é Boris, um antigo ativista que provocou um atentado nos anos 1980 que deixou vítimas. Estava incógnito até agora, como dono de um bar. Mas eis que entra no estabelecimento Georges (Bruno Romy, colaborador constante da dupla de diretores), disposto a matar Boris por vingança. Porém, seu braço mecânico falha, e Boris escapa.
Mas, temendo seu retorno, Boris e sua esposa Kayoko (Kaori Ito) bolam um plano. Ao descobrirem um sósia de Boris, de nome Dom, eles o sequestram para ficar no lugar à mercê do assassino. No entanto, a ex-mulher de Dom, Fiona (Gordon), tenta descobrir o seu paradeiro.
O enredo como meio para gags
Predominam as gags visuais. Os personagens se envolvem em situações absurdas, mas fazem cara de paisagem, como se não houvesse nada de anormal. O humor físico é puxado por Kaori Ito, mais vigorosa por ser uma das mais jovens desse elenco. A cena da bagunça para vestir um inconsciente Dom é impagável, digna dos melhores momentos do cinema mudo (num ponto até justificado em cena, porque um personagem perde seu aparelho contra surdez), ou das loucuras dos Irmãos Marx. Até número de dança entra nessa fuzarca.
Na direção, Abel e Gordon demonstram talento também. Na maior parte do filme, posicionam a câmera como se fosse o proscênio, ou seja, como se o espectador estivesse sentado nas primeiras filas em frente ao palco de um teatro. Afinal, o humor que fazem vem mesmo deste berço. Porém, se apropriam também dos recursos do cinema de qualidade, e um bom exemplo é o trecho em que o reflexo de Fiona ocupa o lugar do passageiro no carro onde Boris está ao volante.
Contudo, em meio a essa sucessão de gags, a estória patina. O filme não só perde o ritmo na sua metade, como o enredo fica confuso. Quase entra num desnecessário triângulo amoroso, enquanto a personagem Fiona assume um protagonismo frouxo.
Então, A Estrela Cadente fica nisso. Várias piadas visuais espertas, situações absurdas, cenários com cores fortes e uma trama pouco interessante. Dá para rir, mas não se empolgar com esse filme.
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Ficha técnica:
A Estrela Cadente | L’étoile filante | 2023 | 98 min | França, Bélgica | Direção: Fiona Gordon, Dominique Abel | Roteiro: Fiona Gordon, Dominique Abel | Elenco: Dominique Abel, Fiona Gordon, Kaori Ito, Philipe Martz, Bruno Romy.
Distribuição: Pandora Filmes.