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A Felicidade das Coisas (filme)
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A Felicidade das Coisas

Avaliação:
6/10

6/10

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Crítica | Ficha técnica

A diretora paulista Thaís Fujinaga estreia em longa-metragem com A Felicidade das Coisas, cuja maior força é a autenticidade. Fruto de suas experiências pessoais, o filme traz um rastro de nostalgia, embora desmentido em sentido estrito, por não se situar no passado. E, acertadamente, Fujinaga filma com a câmera essencialmente fixa, com poucos movimentos que poderiam nos afastar desse realismo.

Na trama, a grávida Paula (Patrícia Saravy) passa as férias na casa comprada há pouco tempo em Caraguatatuba, no litoral de São Paulo. Junto com ela, estão seus filhos, o adolescente Gustavo (Messias Gois) e a criança Gabi (Lavinia Catelari), além da sua mãe (Magali Biff). O marido permanece em São Paulo, trabalhando. Paula imagina que ali será seu paraíso, um lugar de descanso e alegria, e está instalando uma piscina de fibra de vidro no quintal da frente para incrementar ainda mais esse olimpo. Mas, a falta de dinheiro e de apoio torce contra seu sonho.

Gente como a gente

A autenticidade presente no filme começa pelos personagens, que são pessoas comuns. Não há nada de extraordinário neles, nem em seus comportamentos ou ações. Da mesma forma, evita-se qualquer busca de heróis ou vilões. O sonho de Paula não é algo de outro mundo, é alcançável, mas inviabilizado porque o marido usa o dinheiro destinado às prestações da piscina para pagar outras dívidas “mais importantes”, segundo ele. A própria mãe dela também a critica: “Mania de gastar o que não pode.”. A tudo isso, Paula retruca em momento posterior do filme: “Mania de achar que a gente não pode ter nada.”.

Logo após essa fala, temos o único instante no longa que foge desse realismo. A tela permanece escura por alguns segundos desconcertantes. Então, vemos Paula em um barco no mar, no meio da noite, e uma enorme baleia emerge das águas para respirar. Essa breve escapada fantástica parece revelar a ilusão da protagonista por acreditar num sonho que durou tão pouco. A piscina e a baleia, em suas enormidades deslumbrantes, encantaram, mas já sumiram.

Prestes a perder a piscina pela falta de pagamento das prestações, a mãe de Paula, pragmática, manda deitar e encher de água essa coisa gigante que nem foi instalada. Pelo menos, a família brinca um pouco nela, lembrando a adaptação frustrante, mas criativa, da “alegria de pobre” da caixa d’água que vira jacuzzi no filme Febre do Rato (2011), de Cláudio Assis.

Nem heróis, nem vilões  

A autenticidade de A Felicidade das Coisas, porém, implica na dificuldade em torcermos pelos personagens. Não há dúvidas que eles criam uma identificação rápida, porém tocando nas nossas fraquezas. Afinal, muitas vezes agimos como Paula, adquirindo coisas pensando que elas nos trarão felicidade. O filme joga isso na nossa cara. Afinal, onde está a alegria de Paula e sua família nessa casinha? As visitas à praia são raras, esses personagens passam o tempo sem ter o que fazer, ou pior, lidando com os problemas que surgem por causa desse bem material.

Nesse sentido, a estrutura narrativa assume a forma de um snapshot, ou seja, um instantâneo desse momento da vida de Paula. Não é uma história com começo, meio e fim. Na verdade, concentra-se nessa última etapa. Vemos o fim das férias, do sonho da piscina, talvez do casamento que já está em ruínas. Por último, na cena derradeira, a troca de olhares entre Paula e Gustavo indica, também, o fim daquele contato mãe e filho mantido até então, pois ele amadureceu e precisa de outras experiências além de subir numa roda-gigante.

À primeira vista, pensamos que a A Felicidade das Coisas nos conduzirá por uma tocante viagem nostálgica que resgata as alegrias gozadas em família. Contudo, o que encontramos aqui é um duro retrato, sem sentimentalismo, da vida como ela é.


A Felicidade das Coisas (filme)
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