A Freira 2 (The Nun II) reforça a intenção de mesclar terror e ação. Esta é a terceira incursão do diretor Michael Chaves dentro do universo de James Wan. Em A Maldição da Chorona (The Curse of La Llorona, 2019), Chaves imitou o estilo desse seu mentor. Depois, em Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio (The Conjuring: The Devil Made Me Do It, 2021), tentou um estilo próprio, mas ainda com marcas de Wan.
Neste novo filme, procura manter os acertos de Corin Hardy em A Freira (The Nun, 2018). Assim, não abre mão dos jump scares, que funcionam bem, e das cenas empolgantes de ação. Como exemplo destas últimas, filma eficientemente uma personagem tentando escapar de uma queda fatal enquanto a casa desmorona. Porém, falha ao usar montagens rápidas demais quando algum ser sobrenatural golpeia uma vítima.
Sustos e emoção
No geral, A Freira 2 consegue criar cenas assustadoras e outras eletrizantes. A figura da freira assombrada, presente em outros filmes do universo Invocação do Mal, é mesmo horripilante. Desde quando surge na penumbra até quando ataca com dentes afiados. O terror, além disso, cresce com a inclusão do personagem possuído – em transe olhando para a parede (como em A Bruxa de Blair [The Blair Witch Project, 1999]) e retorcendo seus membros.
Os trechos de ação entram apenas na parte final, em duas situações paralelas para potencializar a emoção. Numa delas, um pouco forçada, um demônio em forma de bode persegue uma das professoras do internato e suas alunas, com direito a muita correria e gritaria. Na outra, a principal, a protagonista Irmã Irene (Taissa Farmiga) e sua amiga Irmã Debra (Storm Reid) enfrentam a freira endemoniada. Ademais, a menina Sophie (Katelyn Rose Downey) tenta evitar que o possuído Maurice/Frenchie (Jonas Bloquet) se apodere dos itens que darão mais poderes para o demônio.
A direção de Chaves
Pelo menos uma cena merece um apreço especial para a direção de Michael Chaves. É aquela com o vento folheando várias revistas expostas numa banca, até que o desenho de cada página forme um mosaico com a imagem da freira demoníaca. Para completar, o jump scare em seguida realmente assusta.
Por outro lado, Chaves não consegue caracterizar o enorme poder que a freira do mal obtém ao se apossar dos olhos de Santa Clara. A solução simplista que ele adota – a freira cresce de tamanho – é insuficiente e até um pouco patética. Isso estraga o clímax do filme, ainda mais com o recurso do ato de fé como chave para derrotar o mal.
O roteiro
Mas o as principais fraquezas de A Freira 2 se originam do seu roteiro. A ideia do incubador que carrega o demônio de cidade a cidade soa interessante. Porém, o macguffin da vez, os olhos que arrancaram de Santa Clara, não parece consistente. À primeira vista, parecia que justificaria uma vingança nutrida por séculos, o que seria bem potente. Porém, a trama opta apenas por mencionar que os descendentes da santa os guardam por gerações e que podem dar muito poder a quem os possuir. Que tipo de poder e como usá-lo, por que o demônio consegue pegar das mãos de Irene… nada disso tem explicação.
Talvez com um ritmo mais ágil tudo isso passasse desapercebido. Mas o filme se estende por quase duas horas, e a primeira parte demora para mover a narrativa. Em paralelo, mostra o internato na França e como vive Irene agora, após os eventos do primeiro filme. Há algumas aparições, e sustos, mas a história não anda. Mesmo depois de convocarem Irene, o enredo ainda acompanha suas investigações por outros locais até finalmente essas duas pontas se encontrarem.
Lento no início, acelerado no final, e com sustos eficientes ao longo de todo o filme, A Freira 2 prova que o terror com ação é uma boa aposta. Mesmo numa obra irregular como essa.
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Ficha técnica:
A Freira 2 | The Nun II | 2023 | 110 min. | Reino Unido, EUA | Direção: Michael Chaves | Roteiro: Ian Goldberg, Richad Naing, Akela Cooper | Elenco: Taissa Farmiga, Jonas Bloquet, Storm Reid, Anna Popplewell, Bonnie Aarons, Katelyn Rose Downey, Suzanne Bertish.
Distribuição: Warner Bros.
Trailer aqui.