A Grande Chantagem é um dos ataques mais veementes aos chefões dos estúdios de Hollywood. Baseado na peça de Clifford Odets, o filme sugere até que os moguls encomendavam assassinatos.
A direção é de Robert Aldrich, em seu sexto longa-metragem para o cinema, numa carreira que começou na TV em 1952. Como era de se esperar, os estúdios recusaram a produzir esse filme, até que a United Artists aceitou realizá-lo, honrando o fato de ser uma empresa fundada pelos artistas.
Provavelmente, este filme dá a Jack Palance o papel mais desafiador de sua carreira. Ele vive o personagem principal, Charlie Castle, um astro do cinema que ganha fama e fortuna sob as garras do chefão de estúdio Stanley Hoff (Rod Steiger). Apesar de se sentir desconfortável com as condições do contrato leonino ao qual está preso, Charlie não tem forças para quebrá-lo. Essa submissão, junto com seus casos com outras mulheres, está acabando com o casamento com sua esposa Marion (Ida Lupino).
Porém, a gota d’água para Charlie surge quando Hoff sugere assassinar uma jovem aspirante a atriz. O chefão quer eliminá-la para evitar que ela revele à imprensa informações que podem prejudicar a imagem do astro. Afinal, isso faria seu estúdio perder um astro que atrai muita bilheteria.
Peritonite da alma
Apesar de fisicamente enorme, a figura de Jack Palance parece inferiorizada diante de Rod Steiger, um ator de gigantesca intensidade. E esse contraste se encaixa na trama, refletindo as relações reais em Hollywood. De fato, astros e estrelas, superiores em força e beleza, se submetiam aos tiranos dos estúdios, muitas vezes pequenos e feios. Porém, que amedrontavam ao abusar de seus poderes, com gritos e ameaças, pois suas decisões podiam facilmente destruir carreiras.
Além disso, A Grande Chantagem ressalta a força da imprensa, em especial das colunistas de fofocas como Louella Parsons e Hedda Hopper. Em uma indústria que investe na imagem dos artistas que compõem o seu patrimônio, escândalos significam um enorme prejuízo.
Teatro
A origem teatral está evidente em A Grande Chantagem. Praticamente, todas as cenas acontecem na sala de estar da mansão de Charlie. Ademais, o tom dos diálogos é sempre alto e em situações tensas, algumas delas descambando para o confronto entre os personagens em cena. Porém, para evitar que pareça um teatro filmado, Robert Aldrich privilegia planos curtos, com muita variação de enquadramentos. Quando recorre aos planos longos, procura movimentar a câmera.
Moral
Além da denúncia dos abusos dos moguls, o filme se centra na questão moral do ser humano. Nesse sentido, Charlie percebe que o preço do sucesso é alto demais. Em troca do prestígio, ele machuca as pessoas que o amam. Então, ele se dá conta de como sua vida é fútil. Seus filmes são produções superficiais que miram apenas o sucesso comercial, e sua rotina é preenchida com bebidas e mulheres. A sugestão do assassinato escancara essa imoralidade, mas talvez seja tarde demais para Charlie escapar dessa teia.
___________________________________________
Ficha técnica:
A Grande Chantagem | The Big Knife | 1955 | EUA | 1h51min | Direção: Robert Aldrich | Roteiro: James Poe | Elenco: Jack Palance, Ida Lupino, Wendell Corey, Jean Hagen, Rod Steiger, Ilka Chase, Everett Sloane, Wesley Addy, Paul Langton, Shelley Winters.
Veja mais fotos do filme em nosso perfil no Instagram aqui.