O argumento aparente da história de A Grande Fuga (The Great Escaper) é a viagem às escondidas de um veterano da 2ª Guerra Mundial para a celebração 70º aniversário do desembarque do Dia D na França. O fato aconteceu em 2014, quando Bernard Johnson (interpretado por Michael Cane) saiu da sua casa de repouso, onde vive com a esposa Irene (Glenda Jackson). Não avisou ninguém, e após a polícia descobrir seu paradeiro, acabou virando notícia. Porém, o filme não trata de homenagear os heróis de guerra.
Por um lado, a guerra cria uma confraria entre os combatentes que sobreviveram ao conflito. Por isso, mesmo viajando sozinho, Bernard é acolhido por outros combatentes que nem o conhecem. Entre eles, Arthur Howard-Johnson (John Standing), que também está desacompanhado e se mostra muito solícito para ter Bernard por perto. E esse companheirismo vai além dos aliados. Bernard e Arthur encontram os seus inimigos daquela época de confrontos, os alemães. O respeito mútuo nessa reunião inesperada invoca o princípio de que a humanidade como um todo está acima desses conflitos bélicos.
Esse momento serve como ponto de virada do filme. Ao presentear os alemães com seus crachás de acesso ao evento comemorativo, Bernard e Arthur reconhecem que o principal motivo de estarem ali não é a comemoração. Eles têm traumas de guerra para expurgar – e o fazem, 70 anos depois, visitando um cemitério com 5.000 mortos em combate. Cada um dos dois visita um túmulo específico. Bernard exclama: “Que desperdício!”, e a câmera se afasta para um plano geral que impacta pela grande quantidade de lápides. A fala do protagonista ecoa o protesto antibelicista do filme. Para vencedores e perdedores, a guerra resulta em mortes e em sequelas para os sobreviventes.
Respeito aos idosos
Outro tema universal, e que cada vez mais necessita ser reforçado, trata do respeito aos idosos. A tendência mundial, com a modernização da ciência, é que a terceira idade ocupe uma proporção maior em relação à população do planeta. Então, as pessoas precisam urgentemente aprender, ou reaprender, a compreender, respeitar e incluir os idosos no convívio social.
O personagem Bernard cumpre bem esse papel. Embora more numa casa de repouso, ele gosta de caminhar pelas ruas, mesmo precisando do auxílio de um andador. O filme, então, escolhe a figura de ciclistas (talvez por serem o oposto do protagonista porque se movimentam com velocidade) como exemplos de desrespeito com idosos. No início, furando a fila do café; no final, gritando para saírem da frente).
E não é só isso, pois A Grande Fuga ainda procura colocar o espectador na pele dos protagonistas idosos, especialmente Bernard e Irene. Essa intenção ganha força nos momentos em que ela, longe do marido que viajou, encara com a melhor disposição possível a doença terminal que a deixa com pouco tempo de vida. Além disso, o filme retrata o convívio do casal, os dois ainda muito apegados, mesmo diante das muitas limitações impostas pela idade.
Oliver Parker
O diretor Oliver Parker realizou seus melhores filmes no início de sua carreira. Entre eles, Othello (1995), com Laurence Fishburne, e Armadilhas do Coração (The Importance of Being Earnest, 2002). A Grande Fuga se equipara a eles, apesar de recorrer a alguns expedientes descartáveis, como a mania atual de inserir uma cena de vômito e a piadinha da travessura com o pneu da bicicleta.
Mas, acima de tudo, Oliver Parker consegue extrair atuações extraordinárias dos atores veteranos Michael Caine e Glenda Jackson (em seu último trabalho, pois veio a falecer em 15 de junho de 2023, aos 87 anos). A entrega deles serve como prova de quanto os idosos podem ainda contribuir para o mundo.
A Grande Fuga estreia nos cinemas em 27 de junho de 2024.
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A Grande Fuga | The Great Escaper | 2023 |96 min. | Reino Unido, França, Suécia | Direção: Oliver Parker | Roteiro: William Ivory | Elenco: Michael Caine, Glenda Jackson, John Standing, Danielle Vitalis, Will Fletcher, Laura Marcus.
Distribuição: Diamond Films.
