Em A Guerra dos Sexos (Battle of the Sexes), o casal de diretores Jonathan Dayton e Valerie Faris repetem uma estrutura que deu certo em Pequena Miss Sunshine (Little Miss Sunshine, 2006), o filme de estreia da dupla. Assim, apresentam sem pressa os personagens e reservam a parte final para uma disputa emocionante. Esse clímax, que no outro filme era um concurso de artistas mirins, aqui é uma partida de tênis. Não uma qualquer, mas entre um homem e uma mulher (daí o título).
Esse encontro histórico aconteceu em 1973, entre Billie Jean King (campeã do Roland Garros, Wimbledon e US Open em 1972) e o ex-campeão Bobby Riggs (múltiplo campeão do US Open no final da década de 1930 e início de 1940, entre outros títulos). O filme começa com Billie Jean King se revoltando com a diferença do valor da premiação para homens e mulheres de um importante torneio americano. Por causa disso, ela lidera uma liga paralela com as melhores tenistas femininas. Embora fosse casada, durante as viagens desse torneio ela conhece e inicia um relacionamento com a cabelereira Marilyn Barnett (Andrea Riseborough). A sua orientação sexual, na verdade, entra no filme como parte da construção da personagem. Entra também como bandeira secundária, mas a principal é mesmo o feminismo.
A tal Guerra dos Sexos aconteceu por iniciativa de Bobby Riggs. Espalhafatoso, ele era um viciado em jogo, e resolveu apostar em si mesmo. Aproveitou esse boicote liderado por Billie Jean King e a desafiou. Mas ela só aceitou depois que outra tenista perdeu e Riggs aumentou ainda mais seu discurso machista.
Elenco e direção
Emma Stone desaparece no papel de Billie Jean King. Mesmo que a tenista não seja muito conhecida por aqui, esquecemos da atriz e vemos apenas a sua personagem. O que indica sua versatilidade, algo que Steve Carell não consegue mostrar nesse filme. Apesar de que Riggs fosse um sujeito bem palhação, ou por isso mesmo, a persona de Carell atrapalha. Principalmente porque não conseguimos acreditar nele como um temido tenista campeão, nem mesmo considerando que é um veterano de 55 anos.
Jonathan Dayton e Valerie Faris, por sua vez, fazem um belo trabalho de direção. Usam inteligentemente os enquadramentos de acordo com a narrativa, aproveitando a arquitetura e a distância, como a janela do hotel de onde Marilyn observa de longe Bille Jean King isolando-se de tudo para treinar. Ou a visão geral do alto que revela a enormidade do ginásio e, com isso, a grandiosidade do grande duelo final. Espelhos e molduras com portas e paredes completam os elogios à dupla. Por fim, vale destacar ainda as cenas justapostas que mostram os dois adversários em seus respectivos vestiários, em posições opostas, absorvendo o resultado da partida.
A cena final tem uma câmera filmando do alto a quadra tomada pelas pessoas, simbolizando a importância desse evento. Hoje, poucas pessoas se lembram, ou sequer ouviram falar dele. Mas A Guerra dos Sexos está aí para mostrar que são pequenas grandes vitórias como essa que conseguem, num efeito sedimentar, quebrar preconceitos.
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Ficha técnica:
A Guerra dos Sexos | Battle of the Sexes | 2017 | 121 min | Reino Unido, EUA | Direção: Jonathan Dayton, Valerie Faris | Roteiro: Simon Beaufoy | Elenco: Emma Stone, Steve Carell, Andrea Riseborough, Sarah Silverman, Natalie Morales, Bill Pullman, Alan Cumming, Elisabeth Shue, Eric Christian Olsen, Fred Armisen, Martha MacIsaac, Jessica McNamee, Austin Stowell.