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A História do Cinema Negro nos EUA
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A História do Cinema Negro nos EUA | Por Sérgio Alpendre

Avaliação:
7/10

7/10

Crítica | Ficha técnica

Antes da crítica, uma bronca na gigante do streaming. Combinando com meu editor qual seria o filme sobre o qual iria escrever nesta semana, gostei da ideia de escrever sobre A História do Cinema Negro nos EUA, de Elvis Mitchell, documentário cujo título é, ou seria, autoexplicativo, estreado na Netflix no último dia 11.

Cadê o filme?

Como deixei de assinar Netflix por causa da mudança, tive de fazer um novo cadastro na assinatura de minha esposa. Eles pedem para eu assinalar meus três preferidos em uma lista enorme de filmes. Não achei um único que preste na lista deles, então pulei esta etapa. Aí fui procurar, no dia 16, esse documentário. Como em vez de colocar na busca prefiro passear pelos títulos até encontrar o que me interessa, mesmo sabendo que na Netflix o que me interessa estará sempre soterrado pelo algoritmo, fiquei descendo a página e indo para a direita nas fileiras em que o documentário poderia estar: lançamentos, aclamados pela crítica, documentários, não sei o que lá, sei lá o quê.

Para minha surpresa, não o encontrei numa primeira procura. Está lá, estreado no dia 11, mas o algoritmo o esconde até mesmo de quem sabe que o documentário existe e está disponível na plataforma. Só consegui encontrá-lo de fato quando acionei a separação por gêneros dentro da aba filmes. Aí ele aparece, embora mais perto do fim.

Duvido que a Netflix iria boicotar um filme que ela mesma produziu. O que deve ter acontecido é que pela burrice do algoritmo, um usuário branco (sei lá como eles descobriram isso, mas não deve ser difícil) raramente se interessaria por um filme sobre o cinema feito por pessoas negras. Racismo estrutural, sim, mas também a velha burrice de não acreditar em empatia e alteridade, que significariam a morte do algoritmo. Pois que morra o algoritmo. Como?

Esconder o filme nem foi a única coisa grave feita pela Netflix. Tão ruim quanto foi a mudança do título original, de Is That Black Enough For You?!? (Isto é preto o suficiente para você?!?) para um enganador e besta A História do Cinema Negro nos EUA. Estupidez ilimitada.

Sobre o documentário

O filme é bom. Traz o ponto de vista de um diretor e cinéfilo negro, o que ilumina certos aspectos do cinema americano clássico pelo olhar crítico de alguém que raramente havia sido representado na tela grande até os anos 1950, e quando era representado, geralmente era de maneira jocosa ou subalterna.

Mas o filme de Elvis Mitchell não fala exatamente dos pioneiros do cinema negro que lutavam contra essa falta de representatividade. Spencer Williams, Oscar Micheaux e outros pioneiros são mencionados rapidamente. Fala especialmente do período 1968-1978, quando a partir do sucesso de Sidney Poitier e da necessidade de expansão de uma representação dos negros no cinema americano, surge o blaxploitation, já mostrando suas garras em 1969, e chegando ao auge no período 1972-1974.

O filme então explora o nascimento e a derrocada do blaxploitation, e mostra como foi armado o alicerce para futuras revoluções como os cinemas de Charles Burnett, Haile Gerima e John Singleton, ou seja, o passo a frente necessário após a escalada do blaxploitation. Curiosamente, não percebi uma única menção ao fenomenal grupo da L.A.Rebellion, o movimento de Los Angeles que compreendia o cinema de Burnett e Gerima, entre outros. Nem de Spike Lee (a não ser por uma breve imagem do cartaz de She’s Gotta Have It), que provavelmente é o cineasta negro mais famoso do mundo. Sobre esses e alguns outros aspectos importantes da luta pela representatividade, o filme fica devendo.

Didático

Mas é muito interessante no início, quando mostra o tanto de preconceito por trás de alguns clássicos e algumas personalidades, então cinéfilas, que lidavam com eles, ou mesmo no final dos anos 1960, quando o ambiente para a revolução começa a ser desenhado com os primeiros filmes de Mario Van Peebles e Gordon Parks, ou alguns filmes dirigidos por brancos, mas abertos a uma maior representatividade dos negros, como A Noite dos Mortos Vivos (Night of the Living Dead, 1968), de George Romero, ou The Landlord (1970), de Hal Ashby.

O didatismo, a exemplo da estreia netflixiana mais badalada da semana, o filme dos Racionais, dá as caras, mais ou menos como nas viagens pessoais de Scorsese pelos cinemas americano e italiano, mas com um tom de análise menos apaixonado e mais sóbrio, como nos filmes de Mark Cousins. O didatismo, por fim, permite que o cinéfilo anote todos os filmes selecionados e corra atrás dos que não viu ou deseja rever, o que é sempre uma boa ação.

Texto escrito pelo crítico e professor de cinema Sérgio Alpendre, especialmente para o Leitura Fílmica.

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Ficha técnica:

A História do Cinema Negro nos EUA | Is That Black Enough for You?!? | 2022 | 135 min | EUA | Direção e roteiro: Elvis Mitchell | Com Elvis Mitchell, Harry Belafonte, Laurence Fishburne, Whoopi Goldberg, Samuel L. Jackson, Mario Van Peebles, Zendaya.

Distribuição: Netflix.

Onde assistir:
A História do Cinema Negro nos EUA
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