Mark Cousins ficou conhecido pela sua série documental A História do Cinema: Uma Odisseia (The Story of Film: An Odyssey, 2011). Com 15 episódios, trata-se de um abrangente estudo sobre a arte do cinema. Este A História do Olhar (The Story of Looking, 2021) é uma obra mais pessoal, mas ainda com referências a filmes.
O retrato é bem intimista. Começa com o cineasta na cama, sem camisa, assistindo a uma antiga entrevista com Stevie Wonder. No vídeo, perguntam ao cantor cego: “Você gostaria de poder enxergar por um dia?” Esta é a deixa para Cousins iniciar suas divagações sobre a capacidade de olhar, tema sensível a ele no momento em que ele está a um dia de operar a catarata de seu olho esquerdo. As reflexões sobre a questão tomam uma hora do filme, quando acontece a cirurgia, mostrada em detalhes no filme, com as providenciais referências à famosa cena da navalha no olho de Um Cão Andaluz (Um Chien Andalou, 1929), e outros filmes com alucinações com protagonismo dos olhos.
Então, após a intervenção cirúrgica, Mark Cousins parte para a fantasia, imaginando-se velho e pensando sobre a sua passagem do tempo. Entre as pérolas que o diretor consegue conectar, destaca-se o paralelo de Ingrid Berman, jovem em Casablanca (1942) e idosa em Sonata de Outono (Höstsonaten, 1978). Nesse trecho, o diretor toma o capricho de mostrar a atriz em posições similares nos dois filmes.
Por fim, Cousins conclui valorizando o olhar como um “tesouro visual em nossa mente”, afirmação que resulta dessas digressões em voz própria auxiliadas por imagens. A História do Olhar é um documentário com características de cinema experimental. Se não chega a ser uma odisseia, é ao menos uma profunda viagem.
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Ficha técnica:
A História do Olhar | The Story of Looking | 2021 | Reino Unido | 90 min | Direção e roteiro: Mark Cousins | Com Mark Cousins.
Obs: A História do Olhar está na seleção do 27º É Tudo Verdade, que acontece entre 31 de março a 10 de abril de 2022.