Pesquisar
Close this search box.
Poster do filme "A Hora da Estrela"
[seo_header]
[seo_footer]

A Hora da Estrela

Avaliação:
10/10

10/10

Crítica | Ficha técnica

Obra essencial do cinema brasileiro, A Hora da Estrela (1985) volta aos cinemas no dia 16 de maio, em versão remasterizada em 4K, dentro do projeto Sessão Vitrine Petrobrás. O filme marca a surpreendente estreia da diretora Suzana Amaral, que só viria a realizar mais dois longas, Uma Vida em Segredo (2001) e Hotel Atlântico (2009), vindo a falecer em 2020, aos 88 anos.

Estreia de mestre

Não parece filme de estreante. Suzana Amaral move a câmera como o mestre Kenji Mizoguchi, suavemente, sempre privilegiando a personagem principal, seja como ponto de destino do olhar, ou como parceira de seu deslocamento. Só se afasta dela, Macabéa (Marcélia Cartaxo), quando revela ao espectador as artimanhas da falsa colega Glória (Tamara Taxman), ela mesma uma vítima da golpista cartomante Madame Carlota (Fernanda Montenegro).

Além de movimentar a câmera, Suzana Amaral ainda escolhe a dedo os enquadramentos. Não apenas para que fique bonito, mas principalmente para contar a narrativa. Assim, comunica os sentimentos de Macabéa sem precisar recorrer às falas. Nesse sentido, o uso dos espelhos é recorrente. Quando se sente feia, por conta do que ouve dos outros, o vidro que a reflete está estragado. Porém, quando se imagina feliz num vestido de casamento, os espelhos estão impecáveis.

Macabéa, 19 anos, chegou há pouco em São Paulo. Partiu sozinha do Nordeste, e sozinha tenta se sustentar. Sem muita instrução, aceita menos que o salário-mínimo como datilógrafa de uma empresa muito pequena. Come cachorro-quente em todas as refeições e mora num quarto de pensão que divide com outras três garotas. Atiçada por elas e pela colega do trabalho Glória, Macabéa sente vontade de ter um namorado. Acaba se engraçando com o metalúrgico Olímpico (José Dumont), também nordestino. Apesar de ele ser rude e impaciente com ela, se tornam namorados. Esse romance, que não daria bons frutos mesmo, se rompe por conta das manipulações da Madame Carlota.

“Feliz serve para quê?”

É difícil não sentir pena de Macabéa. Moça de uma pureza rara – não por ser virgem, mas por ser ingênua.  Sua simplicidade é tanta que irrita os outros; por exemplo, com a mania de repetir as informações enciclopédicas da rádio que gosta de ouvir para adquirir cultura, embora não saiba o que essa palavra signifique. O filme enfatiza a sua inocência no detalhe da cena em que Olímpico marca um encontro com Glória usando a ficha de telefone público que Macabéa lhe havia dado.

Mas, ainda que o público possa achar graça da simplicidade de Macabéa, ela nunca cai na caricatura. Marcélia Cartaxo, em seu primeiro papel aos 22 anos, não permite que isso aconteça. Atriz e personagem se fundem, como se ela interpretasse a si mesma (o que não é verdade, pois a atriz não tem nada da insegurança da personagem). Essa convergência acontece por resultado de uma atuação fenomenal.

Surge daí uma autenticidade inquestionável, apoiada ainda nos outros atores do elenco, nas filmagens em locações externas e internas. A Macabéa indefesa diante do ambiente opressor dessa cidade gigantesca representa os milhões de nordestinos migrantes. Nesta narrativa melodramática, a tragédia parece prenunciada pelo uso da montagem paralela e da câmera lenta, em contraste com as falsas visões da cartomante desonesta. Na vida real, a tragédia toma mais tempo ainda e, por vezes, nem é percebida.

___________________________________________

Ficha técnica de “A Hora da Estrela”:

A Hora da Estrela | 1985 | Brasil | 96 min | Direção: Suzana Amaral | Roteiro: Suzana Amaral, Alfredo Oroz | Elenco: Marcélia Cartaxo, José Dumont, Tamara Taxman, Fernanda Montenegro, Umberto Magnani, Marcus Vinicius.

Distribuição: Sessão Vitrine Petrobras.

Assista ao trailer aqui.

Onde assistir:
Compartilhe esse texto:

Críticas novas:

Rolar para o topo